> Comunicação Organizacional Verde: fevereiro 2014

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Papos Sustentáveis - RACOM - Eduardo Murad - #3

Em seu terceiro vídeo da série "Papos Sustentáveis", o professor Eduardo Murad explica a Rede Alternativa de Mobilização e Comunicação (RACOM) e ensina como essa importante ferramenta pode auxiliar empresas a se aproximarem das comunidades  outro stakeholders:




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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Exposição na Casa da Ciência discute sobre impactos do consumo no planeta

Fonte: UOL

Ambiente da exposição Nós do Mundo, na Casa da Ciência da UFRJ
Ambiente da exposição Nós do Mundo, na Casa da Ciência da UFRJ. Imagem: Bira Soares/FCC-UFRJ

Instalada na Casa da Ciência da UFRJ, em Botafogo, a exposição "Nós do Mundo" convida o público a refletir sobre a relação com o meio ambiente, discutindo sobre os impactos do consumo e as alternativas para a preservação do planeta. A entrada é gratuita.

Com painéis, vídeos e atividades interativas, a exposição traz à luz questões como consumismo exagerado, mudanças climáticas, desigualdades sociais e degradação ambiental, apresentando algumas soluções sustentáveis para o desenvolvimento.

O público pode interagir no "mercado" para descobrir o valor ambiental de produtos e alimentos, incentivando o consumo consciente. Nesse módulo, é explicado que é preciso consumir 135 litros de água para produzir um ovo, e 650 litros para fabricar um pão de forma.

Dados de um "Lixômetro" contabilizam o lixo produzido, diariamente, na cidade do Rio de Janeiro, desde a inauguração da exposição.

"Queremos que os visitantes reflitam sobre o nosso papel no cenário atual e em cenários mais sustentáveis, que já começam a surgir em diversos países. Queremos mostrar que o futuro é fruto das nossas escolhas de hoje", explica a curadora da exposição, Vanessa Guimarães.

Serviço


Exposição Nós Do Mundo
Quando:Até 30 de março de 2014. De terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 20h.
Onde: Casa da Ciência – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da UFRJ - Rua Lauro Müller, 3, Botafogo
Quanto: Entrada gratuita
Mais informações: (21) 2542-7494 ou www.casadaciencia.ufrj.br

domingo, 23 de fevereiro de 2014

De olho na mata: Google lança mapa do desmatamento em tempo real

Fonte: TechTudo

Por Tassia Moretz

O Google divulgou na última quinta-feira (20) o lançamento do Global Forest Watch, um novo mapa online que permite o acompanhamento da situação das florestas e do desmatamento no mundo todo via satélite e em tempo real, com navegação semelhante ao Google Maps.

O Global Forest Watch apresenta uma visão global e também por regiões específicas das florestas pelo mundo, inclusive do Brasil. É possível acompanhar a evolução do desmatamento no planeta por meio de uma linha do tempo que fica em uma barra no canto inferior da tela, que vai do ano 2000 ao ano de 2013 – em vermelho estão as áreas desmatadas; em azul estão as áreas reflorestadas e recuperadas.

Mapa
Mapa mostra situação global das florestas, do Global Forest Watch (Divulgação/Global Forest Watch) 

A partir do mapa é possível acompanhar as mudanças, a cobertura e o uso das florestas pelo globo, bem como encontrar áreas de conservação, aspectos populacionais e contextos históricos de áreas florestais.

Entre os recursos disponíveis no site estão a opção de selecionar a situação das florestas em países específicos. Ao clicar no Brasil, por exemplo, o usuário tem acesso a informações como o total em hectares da cobertura florestal; o que isso representa economicamente para o país; o número de pessoas empregadas no setor florestal; entre outros dados curiosos sobre a nossa Amazônia.

Mapa Brasil
Mapa mostra situação das florestas no Brasil, do Global Forest Watch (Divulgação/Global Forest Watch)
Há, ainda, uma seção de histórias com acontecimentos sobre as florestas pelo mundo, como o incêndio florestal em Minnesota, nos Estados Unidos, e os impactos da mineração que acontece no Vale de Huatanay, no Peru.


Brasil é um dos líderes em desmatamento 


Para quem quer se profundar no tema, o Global Forest Watch tem ainda um blog com artigos sobre as florestas, e uma base de dados técnicos divulgados por instituições acadêmicas, ONGs, agências governamentais, entre outros. Ao clicar no link “países”, é possível selecionar a opção “visão global”. Nesse tópico há um panorama das nações que têm a maior perda de cobertura florestal no período de 2001 a 2012.

Brasil
No Global Forest Watch, é possível ter acesso a dados específicos das florestas por país (Divulgação/Global Forest Watch)

O Brasil está no segundo lugar do ranking – com perda florestal de mais de 2,5 milhões de hectares em 2012 –, perdendo apenas para a Rússia, que desmatou mais de cinco milhões de hectares de florestas no mesmo ano. A Arábia Saudita está entre os que menos desmataram, com perda de apenas três hectares em 2012.

O sistema de monitoramento do Global Forest Watch foi criado pelo World Resources Institute, pelo Google, e por um grupo de mais de 40 parceiros, entre eles NASA, Esri, UNEP e Greenpeace.

Esses e outros dados – alguns disponíveis para download –, estão no site. O usuário pode fazer parte de uma comunidade, elaborar análises e enviar relatos locais sobre o desmatamento.

O mapa virtual é útil para pesquisadores, estudantes, jornalistas, governos, instituições financeiras, ONGs, e todos aqueles que se preocupam com a questão ambiental. Vale a pena navegar. Para conhecer o projeto acesso globalforestwatch.org.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Modelos baseados no cotidiano ajudam a entender mudança do clima


Por José Eduardo Mendonça 

sol-aquecimento
Foto: jah~/Creative Commons

Mais de 90% dos cientistas do clima no mundo concordam que ele está mudando em grande parte devido a emissões de CO2 causadas por atividades humanas. Há indicações de que as avaliações feitas pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, são mais conservadoras que alarmistas, apesar de suas previsões perturbadoras em relação ao aquecimento global e suas consequências. Ainda assim, estes indicadores científicos de maior risco são acompanhados por um aparente declínio da percepção pública da situação.

E por que isto está acontecendo? Há muitas causas, e uma delas é a própria complexidade da ciência do clima, com teorias abstratas de difícil compreensão para o grande público.

É complicado entender o conceito da mudança do clima e seu impacto sobre o ambiente. Mas o estabelecimento de um território comum e o uso de modelos podem derrubar barreiras e apresentar a questão de maneira mais inteligível.

Em uma apresentação feita no encontro da Sociedade Americana Para o Avanço da Ciência, que terminou ontem, 17/02, a ecologista e modeladora da Universidade Estadual do Michigan, Laura Schmitt-Olabisi, mostrou como modelos dinâmicos de sistemas comunicam os desafios e as implicações das alterações climáticas, de forma eficaz.

“Temos necessidades de ferramentas que possam incentivar o diálogo através das fronteiras tradicionais, alcançando, além dos cientistas, os tomadores de decisão e o público em geral”, disse Schmitt-Olabisi. “Usando mapas, diagramas e modelos, todos os grupos envolvidos podem compartilhar informações para termos discussões que criem soluções possíveis”, afirmou.

Para entender os modelos de saúde urbana, ela e seus colegas entrevistaram planejadores, funcionários da saúde pública e gerenciadores de emergências. As entrevistas foram traduzidas em um modelo de computador junto com dados de secas atuais e passadas no Meio Oeste americano.

Schmitt-Olabisi descobriu que esta abordagem é uma ferramenta poderosa para iluminar áreas com problemas e identificar os melhores modos de ajudar populações vulneráveis, informa o site da universidade.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

As commodities ambientais e a financeirização da natureza. Entrevista especial com Amyra El Khalili

Fonte: Unisinos

Por Andriolli Costa

“A financeirização da natureza é a ação de tornar financeiro aquilo que é eminentemente econômico. Isso porque a melhora da qualidade de vida também é uma questão econômica”, propõe a economista.



Foto: teleport2001.ru
De acordo com o Ministério da Agricultura, durante o ano de 2013 o agronegócio brasileiro atingiu a cifra recorde de 99,9 bilhões de dólares em exportações. Soja, milho, cana ou carne ganham os mercados externos na forma de commodities: padronizadas, certificadas e atendendo a determinados critérios e valores regulados internacionalmente.

Para a economista Amyra El Khalili, no entanto, as monoculturas extensivas não deveriam ser a única alternativa de produção brasileira. A movimentação econômica envolvendo as commodities tradicionais exclui do processo os pequenos e médios produtores, extrativistas, ribeirinhos e as populações tradicionais. Sem grandes incentivos governamentais, sem investimento para atingir os elevados padrões de qualidade nacionais e internacionais ou capacidade produtiva para atingir os mercados, estes permanecem sempre à margem do sistema.

Foi com base no raciocínio da inclusão que a economista de origem palestina criou o conceito de commodity ambiental. Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ela aborda a polêmica dos créditos de carbono (uma “comoditização da poluição”), questiona o fornecimento de créditos por Redução de Emissões por Desmatamento (Redd) para o agronegócio e descreve o conceito inicial criado por ela. “Uma commodity tradicional é a matéria-prima extraída do ecossistema, que é manufaturada, padronizada por um critério internacional de exportação adotado entre transnacionais e governos”. Por outro lado, a commodity ambiental “também terá critérios de padronização, mas adotando valores socioambientais e um modelo econômico totalmente diferente”.

Khalili, que durante mais de 20 anos atuou como operadora de ouro no mercado financeiro, relata que o termo commodity é usado como uma provocação. O conceito está em permanente construção, mas atualmente representa o produto manufaturado pela comunidade de forma artesanal, integrada com o ecossistema e que não promove impacto ambiental. A commodity convencional privilegia a monocultura, a transgenia e a biologia sintética, com seus lucros concentrados nos grandes proprietários. A ambiental é pautada pela diversificação de produção, pela produção agroecológica e integrada, e privilegia o associativismo e o cooperativismo.

Amyra El Khalili é economista graduada pela Faculdade de Economia, Finanças e Administração de São Paulo. Atuou nos Mercados Futuros e de Capitais como operadora da bolsa, com uma carteira de clientes que ia do Banco Central do Brasil à Bombril S/A e ao Grupo Vicunha. Abandonou o mercado financeiro para investir seu tempo e energia no ativismo. É idealizadora do projeto da Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais, fundadora do Movimento Mulheres pela P@Z e editora da Aliança RECOs (Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras). Khalili ministra cursos de extensão e MBA em diversas universidades, por meio de parcerias entre a rede, entidades locais e centros de pesquisa. É autora do e-book gratuito Commodities Ambientais em missão de paz - novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe (São Paulo: Nova Consciência, 2009).

Confira a entrevista.


Foto: Clarinha Glock - IPS
IHU On-Line - Existe diferença entre comoditização da natureza e financeirização da natureza? Quais?

Amyra El Khalili – Existe, mas uma acaba interferindo na outra. A comoditização da natureza é transformar o bem comum em mercadoria. Ou seja, a água, que na linguagem jurídica é chamada de bem difuso, deixa de ser bem de uso público para ser privatizada, para se tornar mercadoria. A financeirização é diferente, é a ação de tornar financeiro aquilo que é eminentemente econômico.

Isso porque a melhora da qualidade de vida também é uma questão econômica. Uma região onde as pessoas conseguem conviver com a natureza e tem acesso à água limpa, por exemplo, oferece um custo financeiro melhor, onde você vive melhor e gasta menos. Isso também tem fundamento econômico.

IHU On-Line - No caso da financeirização da natureza, o que se encaixaria nessa descrição?

Amyra El Khalili - A nossa obrigação de pagar por serviços que a natureza nos faz de graça e que nunca foram contabilizados na economia, como sequestrar o carbono da natureza, por exemplo. As árvores sequestram o carbono naturalmente, mas para ter qualidade de ar daqui para frente é preciso pagar para respirar. Nessa lógica, aquele que respira precisa pagar pelo preço daquele que poluiu, enquanto este deixa de ser criminalizado e recebe flexibilidade para não ser multado.

IHU On-Line - Você foi a criadora do conceito de commodities ambientais, que é bem diferente da comoditização da natureza. Qual era a sua proposta inicial para o termo?

Amyra El Khalili – Uma commodity tradicional é a matéria-prima extraída do ecossistema, que é manufaturada, padronizada por um critério internacional de exportação adotado entre transnacionais e governos. Os pequenos e médios produtores, os extrativistas e ribeirinhos, entre outros, não participam dessas decisões. O ouro, minério, não é uma commodity enquanto está na terra, é um bem comum. Ele torna-se uma quando é transformado em barras, registrado em bancos, devidamente certificado com padrão de qualidade avaliado e adequado a normas de comercialização internacional.

A commodity ambiental também terá critérios de padronização, mas adotando valores socioambientais e um modelo econômico totalmente diferente. O conceito está em construção e debate permanente, mas hoje chegamos à seguinte conclusão: a commodity ambiental é o produto manufaturado pela comunidade de forma artesanal, integrada com o ecossistema e que não promove o impacto ambiental como ocorre na produção de commodities convencionais.

A convencional (soja, milho, café, etc.) é produzida com monocultura e a ambiental exige a diversificação da produção, respeitando os ciclos da natureza de acordo com as características de cada bioma. A convencional caminha para transgenia, para biologia sintética e geoengenharia; a outra caminha para a agroecologia, permacultura, agricultura alternativa e de subsistência, estimulando e valorizando as formas tradicionais de produção que herdamos de nossos antepassados. A convencional tende a concentrar o lucro nos grandes produtores, já a ambiental o divide em um modelo associativista e cooperativistas para atender a maior parte da população que foi excluída do outro modelo de produção e financiamento.

O Brasil concentra sua política agropecuária em cinco produtos da pauta de exportação (soja, cana, boi, pinus e eucaliptos). A comoditização convencional promove o desmatamento, que elimina a biodiversidade com a abertura das novas fronteiras agrícolas. Nós somos produtores de grãos, mas não existe apenas essa forma de geração de emprego e renda no campo. Quantas plantas nós temos no Brasil? Pense na capacidade da riqueza da nossa biodiversidade e o que nós poderíamos produzir com a diversificação. Doces, frutas, sucos, polpas, bolos, plantas medicinais, chás, condimentos, temperos, licores, bebidas, farinhas, cascas reprocessadas e vários produtos oriundos de pesquisas gastronômicas. Sem falar em artesanato, reaproveitamento de resíduos e reciclagem. O meio ambiente não é entrave para produzir, muito pelo contrário.

IHU On-Line - Como é possível transformar em commodity algo produzido de forma artesanal?

Amyra El Khalili – O termo é justamente uma provocação. Na commodity ambiental utilizamos critérios de padronização reavaliando os critérios adotados nas commodities tradicionais. Por isso cunhei o termo para explicar a “descomoditização”. No entanto, diferentemente das convencionais, os critérios de padronização podem ser discutidos, necessitam de intervenções de quem produz e podem ser modificados. Nas commodities ambientais, o excluído deve estar no topo deste triângulo, pois os povos das florestas, as minorias, as comunidades que manejam os ecossistemas é que devem decidir sobre esses contratos, critérios e gestão destes recursos, uma vez que a maior parte dos territórios lhes pertence por herança tradicional.

Com objetivo de estimular a organização social, cito um exemplo de comercialização associativista e cooperativista bem-sucedida. É o caso dos produtores de flores de Holambra (SP). Além de produzirem com controle e gestão adequados às suas necessidades, a força da produção coletiva e o padrão de qualidade fizeram com que o seu produto ganhasse espaço e reconhecimento nacional.

Hoje você vê flores de Holambra até na novela da Globo. Essa produção, porém, ainda está no padrão de commodities convencional, pois envolve o uso de agrotóxicos. Mesmo assim conseguiu adotar outro critério para decidir sobre a padronização, comercialização e precificação, libertando-se do sistema de monocultura. A produção de flores é diversificada, o que faz com que o preço se mantenha acima do custo de produção, auferindo uma margem de lucro para seus produtores.

Inspirados no exemplo de comercialização da Cooperativa Agrícola de Holambra com o sistema de Leilão de Flores (Veiling), desenvolvemos um projeto de comercialização das commodities ambientais, além de novos critérios integrados e participativos de padronização com associativismo. No entanto, o governo também precisa incentivar mais esse tipo de produção alternativa e comunitária. A Anvisa, por exemplo, exige normas de vigilância sanitária e padrões de industrialização que tornam inacessível para as mulheres de Campos dos Goytacazes colocarem suas goiabadas nos supermercados brasileiros (para além de sua cidade). Quem consegue chegar aos supermercados para vender um doce? Só a Nestlé, só as grandes empresas.

E o questionamento que está sendo feito é justamente esse. Abrir espaço para que pessoas como as produtoras de doces saiam da margem do sistema econômico. Que elas também possam colocar o seu doce na prateleira e este concorra com um doce industrializado, com um preço que seja compatível com sua capacidade de produção. Não é industrializar o doce de goiaba, mas manter um padrão artesanal de tradição da goiabada cascão. Se nós não tivermos critérios fitossanitários para trazer para dentro essa produção que é feita à margem do sistema, elas vão ser sempre espoliadas e não terão poder de decisão. O que se pretende é que se crie um mercado alternativo e que esse mercado tenha as mesmas condições, e que possam, sobretudo, decidir sobre como, quando e o que produzir.

IHU On-Line – O termo commodities ambientais é por vezes utilizado de maneira distorcida, como que fazendo referência às commodities tradicionais, mas aplicada a assuntos ambientais, como os créditos de carbono. De que modo foi feita essa apropriação?

Amyra El Khalili – Ele foi apropriado indevidamente pelos negociantes do mercado de carbono. Eles buscavam um termo diferente da expressão “créditos de carbono”, uma palavra que já denuncia um erro operacional. Afinal, se você quer reduzir a emissão, por que creditar permissões para emitir? Contadores, administradores de empresa e pessoas da área financeira não entendiam como se reduz emitindo um crédito que entra no balanço financeiro como ativo e não como passivo.

Como o nome créditos de carbono não estava caindo na graça de gente que entende do mercado, eles pegaram a expressão commodities ambientais para tentar justificar créditos de carbono. Porque na verdade estavam comoditizando a poluição e financeirizando-a. É o que consideramos prática de assédio conceitual sub-reptício: quando se apropriam das ideias alheias, esvaziam-nas em seu conteúdo original e preenchem-nas com conteúdo espúrio. É importante salientar que esse “modus operandi” está ocorrendo também com outras iniciativas e temas como a questão de gênero e étnicas. Bandeiras tão duramente conquistadas por anos de trabalho e que nos são tão caras.

IHU On-Line - Os defensores da Redução Certificada de Emissão promovida pelos Créditos de Carbono afirmam que apesar desse recurso oferecer aos países industrializados uma permissão para poluir, o governo estabelece um limite para estas transações. Você concorda com tal afirmação?

Amyra El Khalili – Esse controle tanto não é feito de maneira adequada, que desde 2012 há uma polêmica no parlamento europeu de grupos que exigem que a Comunidade Europeia retenha 900 milhões de permissões de emissão autorizadas após o mercado ter sido inundado por estas permissões (cap and trade). São permissões auferidas pelos órgãos governamentais que foram vendidas quando a cotação dos créditos de carbono estava em alta e agora caíram para quase zero.

Então na teoria pode ser muito bonito, mas entre a teoria e a prática há uma distância oceânica. Há também o seguinte: ainda que você tenha o controle regional, a partir do momento que um título desses vai ao mercado financeiro e pode ser trocado entre países e estados em um sistema globalizado, quem controla um sistema desses? Se internamente, com os nossos títulos, às vezes ocorrem fraudes e perda de controle tanto com a emissão quanto com as garantias, como se vai controlar algo que está migrando de um canto para outro? É praticamente impossível controlar volumes vultosos de um mercado intangível e de difícil mensuração.

IHU On-Line - A China e a Califórnia planejam utilizar os arrozais como fonte para créditos de carbono, o que levou a uma reação da comunidade ambiental com o movimento No-Redd Rice. Em que consiste o movimento e por que ele é contrário a este acordo?

Amyra El Khalili – O REDD, a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, é a compra de um título em créditos de carbono sobre uma área de floresta que deve ser preservada. Trata-se de mais um exemplo de financeirização da natureza, pois vincula a comunidade local a um contrato financeiro em que ela fica impedida de manejar a área por muitos anos, enquanto a outra parte do contrato continua produzindo e emitindo poluição do outro lado do mundo.

No caso do arroz com REDD, acontece o seguinte: com o entendimento de que uma floresta sequestra carbono, e que é possível emitir créditos de carbono sobre uma área preservada de floresta, o argumento é que a plantação também sequestra. O transgênico inclusive sequestra mais carbono do que a agricultura convencional, porque a transgenia promove o crescimento mais rápido da planta e acelera o ciclo do carbono. Então qualquer coisa que você plantar na monocultura intensiva, como a cana ou a soja, vai sequestrar carbono também. E, por isso, o agronegócio deseja emitir créditos de carbono também para a agricultura. Podemos dizer que não sequestra? Não, realmente sequestra, mas e quanto aos impactos ambientais?

O movimento internacional contra REDD com Arroz está se posicionando porque isso pressionará toda produção agropecuária mundial, colocando os médios e pequenos produtores, populações tradicionais, populações indígenas novamente reféns das transnacionais e dos impactos socioambientais que esse modelo econômico excludente está causando, além de afetar diretamente o direito à soberania alimentar dos povos, vinculando o modelo de produção à biotecnologia e com novos experimentos bio-geo-químicos.

IHU On-Line - O problema é que, se o crédito de carbono foi criado com o objetivo de diminuir os impactos ambientais, não se pode colocar sob uma monocultura que gera impactos da mesma forma a possibilidade de solução do problema, correto?

Amyra El Khalili – Exatamente. Outra coisa importante é que, mesmo com o conceito commodity ambiental estando em construção coletiva e permanentemente em discussão, hoje nós temos a certeza do que não é uma commodity ambiental. Elas não são transgênicas, nem podem ser produzidas com derivados da biotecnologia — como biologia sintética e geoengenharia. Não são monocultura, não podem se concentrar em grandes produtores, não causam doenças pelo uso de minerais cancerígenos (amianto), não usam produtos químicos, nem envolvem a poluição ou fatores que possam criar problemas de saúde pública, pois estes elementos geram enormes impactos ambientais e socioeconômicos.

A produção agrícola, como é feita hoje, incentiva o produtor a mudar sua produção conforme o valor pago pelo mercado. Então se a demanda for de goiaba, só se planta goiaba. Nas commodities ambientais, não. Não é o mercado, mas o ecossistema que tem o poder de determinar os limites da produção. Com a diversificação da produção, quando não é temporada de goiaba é a de caqui, se não for caqui na próxima safra tem pequi e na seguinte melancia. Se começarmos a interferir no ecossistema para manter a mesma monocultura durante os 365 dias do ano, vamos gerar um impacto gravíssimo.

IHU On-Line – O que é a água virtual e como esse conceito se encaixa na discussão de commodities?

Amyra El Khalili – A água virtual é a quantidade de água necessária para a produção das commodities que enviamos para exportação. No Oriente Médio, ou em outros países em crise de abastecimento, como não há água para a produção agrícola extensa a alternativa é importar alimento de outros países. Quando se está importando alimento, também se importa a água que este país investiu e que o outro deixou de gastar.

O que se defende na nossa linha de raciocínio é que, quando exportamos commodities tradicionais (soja, milho, boi, etc.), se pague esta água também. No entanto, não é paga nem a água, nem a energia ou o solo gasto para a produção daquela monocultura extensiva. A comoditização convencional, no modelo que temos no Brasil há 513 anos, é altamente consumidora de energia, de solo, de água e biodiversidade, e esse custo não está agregado ao preço da commodity. O produtor não recebe este valor, pois vende a soja pelo preço formado na Bolsa de Chicago. Quem compra commodity quer pagar barato, sempre vai pressionar para que este preço seja baixo.

IHU On-Line – Ainda sobre a água, se é na escassez dos recursos que estes passam a ser valorizados como mercadoria, quais as perspectivas de uma crise mundial no abastecimento hídrico?

Amyra El Khalili – Eu considero a questão hídrica a mais grave e mais emergencial no mundo. Sem água não há vida, ela é essencial para a sobrevivência do ser humano e de todos os seres vivos. A falta de água é morte imediata em qualquer circunstância. No Brasil não estamos livres do problema da água. Muita dessa água está sendo contaminada com despejo de efluentes, agrotóxicos, químicos e com a eminência da exploração de gás de xisto, por exemplo, onde a técnica usada para fraturar a rocha pode contaminar as águas subterrâneas.

Os pesquisadores e a mídia dão ênfase muito grande para as mudanças climáticas, que é a consequência, sem aprofundar a discussão sobre as causas. Dão destaque para o mercado de carbono como “a solução”, sem dar prioridade para a causa que é o binômio água e energia. O modelo energético adotado no mundo colabora para esses desequilíbrios climáticos, se não for o maior responsável entre todos os fatores. Nós somos totalmente dependentes de energia fóssil, e no Brasil temos um duplo uso da água: para produzir energia (hidrelétricas) e para produção agropecuária e industrial, além do consumo humano e de demais seres vivos.

E por que é necessário produzir tanta energia? Porque nosso padrão de consumo é altamente consumidor. Seguimos barrando rios e fazendo hidrelétricas, e quando barramos rios, matamos todo o ecossistema que é dependente do ciclo hidrológico. Caso o binômio água e energia seja resolvido, também será resolvido o problema da emissão de carbono. Quando se resolve a questão hídrica, recompomos as florestas, as matas ciliares, a biodiversidade. O fluxo de oxigênio no ambiente e a própria natureza trabalhará para reduzir a emissão de carbono. Se não atacarmos as causas ficaremos circulando em torno das consequências, sem encontrarmos uma solução real e eficiente para as presentes e futuras gerações.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Papos Sustentáveis - Marketing Verde - Nemézio Amaral Filho #2

Em seu segundo vídeo da série "Papos Sustentáveis", Nemézio Amaral Filho, um dos três autores do livro "Comunicação Organizacional Verde: Economia, Marketing Ambiental e Diálogo Social para a Sustentabilidade Corporativa" expõe casos em que, equivocadamente, acreditava-se que o conceito de marketing verde estava sendo aplicado. Neste vídeo, ele também apresenta soluções para que o verdadeiro marketing ambiental possa ser utilizado.



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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Relatório: Empresas não estão preparadas para crise de recursos naturais


Por Fabiano Ávila

Consultoria britânica Carbon Trust destaca que o mundo corporativo já entende que a água e outros bens naturais estão ficando cada vez mais escassos, mas salienta que ainda são poucas as que estão transformando seus modelos de negócios


Já há muito tempo é sabido que os recursos do planeta são finitos e que o desafio de se adequar a uma nova realidade de queda na oferta de matéria-prima e de possíveis interrupções na cadeia de suprimentos ficará cada vez maior.

Porém, essa conscientização, que já teria alcançado um nível alto entre as empresas, ainda não se traduziu em ações, e poucos são os líderes empresariais que estão enxergando a escassez de recursos como uma oportunidade e não uma crise.

Essa é uma das conclusões do relatório “Opportunities in a resource constrained world: How business is rising to the challenge” (algo como Oportunidades em um mundo de recursos escassos: Como os negócios estão enfrentando o desafio), divulgado na semana passada pela consultoria britânica Carbon Trust.

De acordo com o documento, existirá, por exemplo, uma lacuna de 40% entre as reservas de água disponíveis e a necessidade de consumo em 2030. Outros recursos, como certos minérios utilizados em produtos de alta tecnologia, ficarão escassos ainda antes, já em 2016.

“Para proteger nossa economia, nosso meio ambiente e os recursos disponíveis para as futuras gerações, precisamos que as empresas de hoje reconheçam a seriedade dessa ameaça e adaptem seus modelos de negócios”, afirmou Tom Delay, presidente da Carbon Trust.

A consultoria entrevistou 475 companhias de cinco países e constatou que 69% delas possuem algum tipo de programa de sustentabilidade. No entanto, 40% das pesquisadas classificaram seus esforços como “reativos”, ou seja, esperam o problema surgir e depois atuam para resolvê-lo. Para piorar, apenas 5% das empresas estão confiantes na qualidade de seus programas e se consideraram líderes em sustentabilidade.

“Nosso relatório mostra que as empresas que proativamente estão colocando a sustentabilidade em suas operações têm o potencial de valorizar seus negócios e reduzir a vulnerabilidade à escassez dos recursos”, explicou Delay.


Oportunidades


Apesar de criticar a lentidão do mundo corporativo em transformar seus modelos de negócio, a maior parte do relatório é dedicada às boas práticas já existentes e que podem servir de exemplo para quem quiser explorar as oportunidades de uma economia mais sustentável.

Uma das corporações citadas é a BT, uma das maiores empresas de comunicação do planeta, presente em 170 países. Através de programas de sustentabilidade, a BT conseguiu, desde 2011, reduzir as emissões de gases do efeito estufa de suas operações em 44% e de sua cadeia de fornecedores em 15%, e diminuiu em 40% a sua produção de resíduos. Ao mesmo tempo, registrou uma queda de 14% em seus custos operacionais.

Outro destaque é a Whitebread, maior cadeia de hotéis e restaurantes do Reino Unido, que emprega 43 mil pessoas e atende mais de 22 milhões de clientes por mês em 2.500 estabelecimentos.

Segundo a Carbon trust, a iniciativa “Good Together” (algo como Bons Juntos) da Whitebread promoveu a redução de 23% nas emissões, 22% no consumo de água e aumentou em 93% a reciclagem de resíduos. Mesmo com os investimentos necessários para realizar essas ações, os lucros da empresa em 2013 aumentaram 14%.

“Ao se diferenciarem da prática comum no mercado, as empresas mais sustentáveis conseguem aumentar sua competitividade e fortalecer sua marca”, afirma o relatório.

A Carbon Trust acredita que, ao buscarem ser mais eficientes, as companhias estão se posicionando de forma vantajosa em um planeta em que os recursos estão ficando escassos. Assim, podem tirar proveito das oportunidades que outras empresas não enxergam ou não têm condições de atender.

“A grande mensagem do relatório é que é benéfico de várias maneiras para as empresas se tornarem mais resilientes aos problemas ambientais e climáticos. Melhorar a eficiência no uso de recursos é bom para a reputação e se reflete de forma quase automática em ganhos reais”, concluiu Delay.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Comunicação Organiacional Verde planta sustentabilidade no Gandarela

Em 21 de dezembro de 2013, divulgamos a ação “Plante Uma Árvore”, realizada pela floricultura Ikebana Flores, por meio da qual foram plantadas mudas no pé da Serra do Gandarela, em Rio Acima (MG), como forma de sensibilizar a sociedade para a questão do desmatamento local. Para retribuir nossa adesão à campanha, a floricultura plantou uma mudinha em nosso nome! Gostaríamos de agradecer aos amigos da Ikebana Flores por esse gesto tão significativo. 



Esperamos que, assim como o projeto Comunicação Organizacional Verde, ela cresça forte e colabore para uma mudança de mentalidade. A sustentabilidade depende de todos nós!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ban KI-moon diz que modelo de prosperidade atual é insustentável

Fonte: Rádio ONU

Por Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.

Secretário-Geral fez a declaração na abertura da reunião do Conselho Científico em Berlim; ele afirmou que o mundo precisa da ciência para compreender, proteger e usar os recursos do meio ambiente.


Ban Ki-moon discursa em Berlim. Foto: ONU/Mark Garten
O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou nesta quinta-feira (06/02) que o modelo atual de prosperidade é insustentável.

Em discurso na abertura da reunião do Conselho Científico em Berlim, Alemanha, Ban disse que a atividade humana está tendo um impacto direto e mensurável nos sistemas de apoio à vida do planeta.

Ciência


O chefe da ONU declarou que o mundo precisa da ciência para compreender, proteger e usar os recursos do meio ambiente de forma inteligente.

O Secretário-Geral explicou que é necessário entender mais sobre as "forças demográficas e econômicas" em ação no mundo inteiro.

Além disso, Ban alertou que é preciso lidar com grandes questões incluindo a fome, a prevenção de desastres, o saneamento básico e a energia sustentável para todos.

Pensar e Agir


Ele disse que saber dos problemas não é suficiente, é necessário por em prática novas formas de pensar e agir.

Ban deixou claro que o mundo enfrenta uma multiplicidade de crises, riscos e vulnerabilidades. Segundo ele, esses problemas estão tão interligados que é praticamente impossível serem resolvidos por um único país.

Para o chefe da ONU, é necessária uma visão holística dos desafios para a criação de respostas integradas.

Ban afirmou que o Conselho integra os cientistas mais competentes do mundo. Eles vão fornecer as sugestões indispensáveis para que se possa fazer a "ponte" entre a ciência e as políticas para um desenvolvimento sustentável.

O Conselho Científico foi criado no ano passado e é formado por 26 cientistas de todo o mundo indicados pelo Secretário-Geral. O grupo tem um integrante lusófono. O especialista em meio ambiente, Carlos Nobre, secretário nacional para Políticas de Pesquisa e Desenvolvimento.

O Conselho tem como base a sede da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, em Paris.

Clique aqui para ouvir a matéria na rádio ONU acesse.

Professor Eduardo Murad explica a internalização da perspectiva dos stakeholders

Em seu segundo vídeo da série "Papos Sustentáveis" do canal Comunicação Organizacional Verde, o professor Eduardo Murad trata da necessidade de internalizar a perspectiva dos stakeholder às estratégias desenvolvidas pelas organizações para se relacionarem com os comunidades vizinhas e demais atores sociais locais.



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