Fonte: Instituto CarbonoBrasil
Levantamento indica que existem atualmente 39 mecanismos nacionais e 23 subnacionais de precificação de carbono, e que a tendência é a multiplicação dessas iniciativas
Indústrias de quase 40 países já são obrigadas a pagar pelo menos por parte das emissões de gases do efeito estufa (GEEs) que liberam para a atmosfera, o que significa que cerca de seis gigatoneladas de dióxido de carbono (GtCO2e), ou 12% do total mundial, estão sob algum tipo de mecanismo de precificação de carbono, é o que revela o relatório “Estado e Tendências da Precificação do Carbono 2014”, divulgado na última quarta-feira (28/05), na Alemanha, durante a 11ª Carbon Expo, a maior feira mundial sobre mercados de carbono.
Produzido pelo Banco Mundial, o documento mostra que existem 39 esquemas nacionais e 23 subnacionais de precificação de carbono em funcionamento no mundo, que juntos estão avaliados em US$ 30 bilhões.
A entidade salienta que o número de esquemas está crescendo de forma acelerada, sendo que, apenas em 2013, mais oito foram lançados. A taxação de carbono também estaria ficando mais comum, com o México e a França adotando essa estratégia nos últimos meses.
“Está claro que as políticas de precificação do carbono estão aqui para ficar – a multiplicação no uso dessas políticas por todo o mundo é fenomenal. A diversidade dos esquemas ajudará a contribuir para que autoridades conheçam mais rapidamente o que funciona e o que não funciona, o que facilitará o combate às mudanças climáticas”, afirmou Alyssa Gilbert, chefe de mecanismos de mercado da consultoria Ecofys e uma das autoras do levantamento.
O relatório destaca a mudança de postura na China e nos Estados Unidos, que estariam finalmente adotando a precificação de carbono.
Os chineses já possuem sete mercados de carbono locais: Tianjin, Pequim, Xangai, Shenzhen, Guangdong, Hubei e Chongqing. Somados, esses esquemas cobrem o equivalente a 1,1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente, constituindo o segundo maior mercado mundial, ficando atrás apenas do Esquema Europeu de Comércio de Emissões (EU ETS).
Nos Estados Unidos, o destaque é o mercado californiano, que entrou em operação em janeiro de 2013. No seu sétimo leilão, realizado na última semana, o esquema já movimentou quase US$ 240 milhões.
“Apesar de o progresso nacional na China e nos EUA ainda poder levar algum tempo, é significativo que os dois maiores emissores mundiais agora tenham instrumentos de precificação de carbono”, disse Alexandre Kossoy, especialista financeiro do Banco Mundial e um dos autores do relatório.
Por sua vez, o Brasil aparece no relatório sem ter muito o que mostrar. “Nenhum progresso notável foi alcançado no último ano”, salienta o documento.
Porém, o Banco Mundial destaca a iniciativa do Sistema de Comércio de Emissões da Plataforma Empresas Pelo Clima, uma plataforma para simulação de um mercado de carbono criada pelo GVces em parceria com a BVRio.
Pela plataforma, 194 empresas, que emitem um total de 22 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente, poderão negociar créditos de carbono de forma simulada. O primeiro leilão aconteceu em março e vendeu créditos a R$ 25.
Carbon Expo
O “Estado e Tendências da Precificação do Carbono 2014” foi um dos destaques da abertura da Carbon Expo, que começou na última quarta-feira (28/05), em Colônia, na Alemanha. O evento reúne representantes do setor privado e autoridades públicas para discutir os melhores caminhos para a adoção de mecanismos de mercado que tenham como objetivo reduzir as emissões de GEEs.
Nesse primeiro momento, o assunto mais mencionado foi a necessidade de um preço global para o carbono.
Segundo líderes industriais, as disparidades entre as iniciativas de precificação do carbono de um país para outro afetam a competitividade das nações, e isso é um dos principais obstáculos para a criação de novos mercados.
Por exemplo, foi salientado que a taxa de carbono no México é o equivalente a US$ 1 a tonelada, enquanto na Suécia é de US$ 168 a tonelada. Para piorar, muitos países nem possuem taxas ou mercados de carbono, o que faz com que suas indústrias tenham vantagem no comércio internacional.
“Será essencial para que façamos a transição para uma economia de baixo carbono que as empresas ao redor do mundo estejam sob regras equilibradas. O melhor instrumento que podemos criar para evitar a crise climática é um mercado global de comércio de emissões”, afirmou Holger Losch, diretor da Associação Industrial da Alemanha (BDI).
Um mercado global também foi defendido por Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
“O movimento em direção a uma economia de baixo carbono está aumentando. Para acelerá-lo, devemos ter um preço estável e significativo para as emissões. Quando custa mais para emitir, as opções limpas são privilegiadas. Ferramentas de mercado são essenciais nesse sentido. Até 2020, o custo das emissões simplesmente deve fazer parte das contas empresariais em todo o mundo”, concluiu Figueres.
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