Aulas destinadas a alunos de 14 a 20 anos ensinam sobre economia solidária, geração de energia, entre outros assuntos
José Pacheco, fundador da Escola da Ponte, e o economista Marcos Arruda serão alguns dos professores
Inscrições ficam abertas até 2 de setembro
MARINA COHEN
O Gaia Jovem será o primeiro curso ministrado dentro da Estação Ecológica do NIMA, uma casa 100% sustentável. Foto: Renata Spolidoro / Divulgação PUC-Rio
RIO - Não é preciso ser um homem ou uma mulher de negócios bilionária para gerar um impacto positivo no planeta. O curso Gaia Jovem, promovido pelo Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente da PUC-Rio (NIMA), pretende ensinar adolescentes e jovens adultos a construir uma “cultura da sustentabilidade”, que não engloba apenas ações que favorecem o meio ambiente, mas também a economia solidária, a geração e consumo consciente de energia e redes sociais.
As aulas rolam do dia 7 de setembro até 9 de novembro, na própria PUC, na Gávea, e são dividias em quatro módulos que abordam as dimensões social, econômica e ecológica da sustentabilidade. Segundo a advogada, Mariana Carvalho, uma das coordenadoras do programa, o curso se destina a quem está no fim do ensino fundamental, cursa o médio ou já se formou. A idade mínima para participar é de 14 anos.
- A geração atual já cresceu uma consciência ecológica, porém muitas vezes não sabe como aplicá-la. Eles querem salvar o mundo, mas acham que é preciso ter dinheiro para isso. O Gaia Jovem pretende abrir a cabeça desse pessoal para novas maneiras de se pensar a sustentabilidade. Há, por exemplo, muitas formas de se criar um empreendimento ou uma cadeia sustentável - diz Mariana Carvalho.
Essa será a primeira edição do Gaia Jovem, o braço mais moço do curso de liderança verde Educação Gaia, com selo da organização Global Ecovillage Educators for a Sustainable Earth (GEESE), presente em mais de 30 países. O currículo começou a ser desenhado durante a conferência Rio+20, no ano passado, e o Brasil foi o país escolhido para receber o projeto-piloto do programa. Por isso, quem conclui o curso ganha um certificado fornecido pela Organização das Nações Unidas. Segundo a coordenadora, as aulas podem ampliar as opções de carreiras a serem seguidas.
- Na escola, costumamos ouvir falar muito sobre as profissões mais tradicionais: medicina, direito, jornalismo. Mas há outras opções, que podem aliar a sustentabilidade com o retorno econômico. As aulas pretendem mostrar como o adolescente pode se conhecer melhor, para que ele faça uma escolha profissional realmente conectada com o que ele quer - afirma Mariana, ressaltando que o curso é feito para “jovens ativos”. - As aulas são mais práticas do que teóricas, com diversas dinâmicas de grupo. A intenção é que os alunos criem uma grande rede de jovens interessados em causar um impacto positivo do mundo.
Dentro das aulas teorico-práticas, ocorrem dinâmicas promovidas pelos educadores convidados, entre eles José Pacheco, fundador da inovadora Escola da Ponte, em Portugal; o economista Marcos Arruda; e o comunicador inglês Dominic Barter. A ideia é que os alunos aprendam através da experiência. Uma horta e a própria sala de aula são utilizadas em lições sobre agroflorestamento e bioconstrução. A feira de trocas é outro ponto alto do curso, estimulando os alunos a trocarem bens e serviços.
- Dessa forma, ampliamos a visão de negócios. Fora que toda a dinâmica é muito divertida - observa a advogada, que trabalha com educação ambiental. - Temos um lema no Gaia Jovem: só é sustentável o que é divertido.
Para selar o ciclo de aprendizagem, no último fim de semana do curso, os alunos fazem um estágio na pousada ecológica El Nagual, em Magé. Nela, colocam em prática o que aprenderam nos três meses de encontros.
Há uma grande chance de ações concretas saírem da sala de aula. Durante a realização do Educação Gaia em 2011, por exemplo, surgiram os embriões para as iniciativas Benfeitoria (plataforma de crowdfunding para financiar projetos transformadores) e Rio+ (que reúne soluções criativas para a cidade).
As aulas do Gaia Jovem ocorrerão aos sábados (oito, no total), das 10h às 18h, na recém-inaugurada Estação Ecológica do NIMA, uma casa 100% sustentável. As inscrições podem ser feitas até o dia 2 de setembro pelo email gaiajovem2013@gmail.com.
O curso custa R$ 1.000 à vista (com uma taxa de inscrição de R$ 100, que é deduzida do valor total). Já o estágio em Magé, de R$ 250, é pago por fora. O NIMA oferece, porém, 1- bolsas (cinco integrais + cinco parciais) para os interessados que não puderem pagar. Basta enviar um e-mail com o pedido de financiamento.
RIO DE JANEIRO - A Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (ABDE) quer estimular a pró-atividade dos bancos de fomento na busca e seleção de projetos que tenham um “lado ambiental”.
Para isso, a associação vai criar um banco de dados, o Info ABDE, que reunirá as informações de desembolsos de seus 30 associados para projetos que tenham “cunho sustentável”, afirmou ao Valor o superintendente executivo da ABDE, Marco Antonio de Araujo Lima. Os associados da ABDE respondem por aproximadamente 50,3% de todo crédito brasileiro.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o maior associado da ABDE, desembolsou R$ 20 bilhões, somente no ano passado, para projetos que incluíam alguma questão sustentável. O número é 60% maior do observado em 2008, e tem tendência de crescimento, tanto por parte do BNDES, quanto por outras instituições financeiras e bancos de fomento estatais, afirma o gerente de meio ambiente do BNDES, Guilherme Guimarães Martins.
Seminário
O assunto foi debatido por agências de fomento e bancos de desenvolvimento de todo país e da América Latina, na terça-feira, 27, na sede do BNDES, no Rio, durante o seminário A promoção do financiamento verde na América Latina e no Caribe. O evento discutiu a ampliação na oferta de crédito para projetos que tenham viés sustentável.
O gerente do banco de fomento vê tendência clara de aumento nas exigências ambientais para novos projetos, e considera o seminário importante para a troca de experiências.
“É importante que a indústria nacional esteja preparada para competir neste novo cenário, tanto em função da transição da economia mundial para uma economia de baixo carbono, como pela incorporação do critério ambiental como fator de compra do consumidor”, diz Martins.
Segundo ele, faz parte da agenda do banco ter estratégias que apoiem e direcionem projetos não apenas da área de meio ambiente, mas de qualquer projeto que tenha alguma parte ligada à sustentabilidade. Ele cita como exemplo a linha Social, que tem custo mais baixo do banco, constituída só pela TJLP (5% ao ano). Martins explica que Se uma empresa, dentro de um projeto maior, for fazer também investimento social, o custo é mais baixo.
Projetos em andamento
O executivo menciona dois exemplos que estão dando certo. O primeiro, programa Finep de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (Paiss), em parceria com a Financiadora de Projetos e Estudos (Finep), tem três linhas importantes, dentre elas um projeto de biocombustíveis.
A carteira do programa, hoje, tem 39 projetos em inovação, 16 específicos para desenvolver o etanol de segunda geração. “A perspectiva é que sejam produzidos 168 milhões de litros do combustível em 2015”, afirma o gerente do BNDES.
O segundo programa, Fundo Clima, foi criado pelo ministério do Meio Ambiente (MMA) e o BNDES é o agente de financiamento reembolsável. O fundo tem R$ 560 milhões que vieram dos royalties do petróleo e seleciona tecnologias nos setores que tem componente maior de inovação.
A Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente - CNIJMA é um instrumento voltado para o fortalecimento da cidadania ambiental nas escolas e comunidades a partir de uma educação crítica, participativa, democrática e transformadora. Ela se caracteriza como um processo dinâmico de encontros e diálogos, para debater temas propostos, deliberar coletivamente e escolher os representantes que levarão as ideias consensuadas para as etapas sucessivas.
Envolver estudantes, professores, juventude e comunidade no enfrentamento do desafio de construirmos juntos uma sociedade brasileira educada e educando ambientalmente para a sustentabilidade: esta é a tarefa do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, representado pela Diretoria de Educação Ambiental (DEA) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pela Coordenação Geral de Educação Ambiental (CGEA) do Ministério da Educação (MEC).
Instrumento de educação ambiental e democracia participativa orientado pelas diretrizes do Ministério do Meio Ambiente, a edição 2013 desse fórum, que ocorre de 24 a 27 de outubro em Brasília, destacará a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Debate via internet permitirá levantar sugestões para melhorar a gestão de resíduos sólidos no país
TINNA OLIVEIRA
Os brasileiros terão a oportunidade de participar da Conferência Virtual de Meio Ambiente, que começa na próxima segunda-feira (26/08). Por meio do portal e-Democracia, da Câmara dos Deputados, qualquer pessoa interessada sólidos poderá enviar contribuições relativas à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O debate faz parte da 4ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (CNMA) e é a primeira vez que essa modalidade via internet é utilizada.
“Essa é a oportunidade de, quem ainda não participou, dar a sua contribuição para aprimorar a gestão de resíduos sólidos no país”, ressalta o coordenador geral da 4ª CNMA e diretor do Departamento de Cidadania e Responsabilidade Socioambiental do Ministério do Meio Ambiente, Geraldo Vitor de Abreu. Serão 16 dias em que o cidadão poderá enviar as sugestões via internet. O prazo acaba em 10 de setembro.
EIXOS PRIORITÁRIOS
Nas últimas duas semanas foram promovidas conversas virtuais sobre cada um dos eixos prioritários da conferência: produção e consumo sustentáveis, redução dos impactos ambientais, geração de trabalho, emprego e renda e educação ambiental. Ao fim da conferência virtual, serão cadastradas 20 propostas por eixo temático.
Outra forma de participação na 4ª CNMA é por meio das conferências livres, que podem ser convocadas por qualquer cidadão. Já foram realizadas 139 reuniões em 24 estados. As contribuições levantadas nesta modalidade, assim como na virtual, são encaminhadas diretamente à etapa nacional e devem ser cadastradas no site da conferência.
Além das conferências livres e da virtual, estão sendo realizadas as assembléias municipais e regionais. Essas enviam suas propostas às etapas estaduais, que também já tiveram início. As propostas levantadas pelas etapas estaduais serão encaminhadas à etapa nacional, que acontecerá de 24 a 27 de outubro, em Brasília.
Esse é o ponto alto do debate, pois é quando os resultados de todas as conferências locais são discutidos pelos representantes eleitos. Ao final, será elaborado documento com 60 ações prioritárias, sendo 15 por eixo. E produzida uma carta de responsabilidade compartilhada da 4ª CNMA com esses resultados.
Consumo excessivo. Esse é um dos principais dilemas da atualidade. Com A História das Coisas, vídeo caseiro baseado em desenhos, Annie Leornad conquistou o mundo ao mostrar os efeitos de uma economia que valoriza o acúmulo de riquezas e de “coisas”. No vídeo de 20 minutos, Annie apresenta os resultados de mais de dez anos de pesquisas sobre o sistema de produção, distribuição, consumo e descarte de produtos no mundo.
Nesta entrevista, a ativista fala sobre suas experiências, aventuras e como devemos focar na qualidade de vida ao invés do consumo exacerbado. Ela conta sobre suas inspirações para o vídeo e o que a levou a escrever um livro contendo detalhes dessas experiências, sobre educação ambiental, sustentabilidade e sobre o papel da sociedade na instituição de uma nova cultura econômica e de consumo.
O filme, que deu origem ao livro, foi visto por mais de 15 milhões de pessoas, sendo o Brasil um dos países com maior número de telespectadores. Annie, que vive com a filha em uma comunidade em Berkley, na Califórnia, ainda destaca a importância de temos um superávit de coisas que realmente importam: o tempo para o lazer, qualidade de vida e a necessidade da sociedade reconsiderar suas prioridades, aprendendo a viver melhor e com menos.
Confira a entrevista:
Efraim Neto - Como surgiu a ideia de escrever o livro A História das Coisas?
Annie Leonard – Em uma inversão da ordem habitual. Primeiramente eu fiz o filme e, em seguida, escrevi o livro. O filme resumiu o que aprendi em 20 anos de viagens e estudos. Visitei fábricas e depósitos em todo o mundo e pude mostrar, em primeira mão, tudo sobre os impactos que a nossa forma de produzir e descartar “coisas” provocam em nossa saúde, no meio ambiente e na sociedade. A História das Coisas conta essas experiências de forma engraçada.
Depois que o filme saiu, recebi dezenas de milhares de emails pedindo mais informações sobre as histórias que ali contei. Fiquei tão feliz que as pessoas queriam falar sobre essas questões – geralmente mantidas fora da discussão pública -, que tentei responder a cada email. Mas isso não funcionou. Em vez disso, decidi escrever um livro que incluísse mais detalhes sobre as histórias apresentadas no filme, algo que pudesse também falar das minhas viagens.
EN – Em seu livro, você traz diversos questionamentos a respeito do estilo de vida humano. Qual a principal mensagem que você pretende transmitir com a História das Coisas?
AL – Minha mensagem principal é que podemos produzir coisas melhores e com menos. A mudança é possível. O nosso meio ambiente e corpos estão repletos de produtos químicos tóxicos. A nossa economia, por meio do consumo excessivo, gera quantidades enormes de resíduos e trata as pessoas pobres como descartáveis. Não precisa ser dessa maneira. Pode ser diferente. Com melhores tecnologias, políticas e mudanças na cultura, podemos ter uma sociedade que seja saudável, sustentável e justa.
EN – Relatórios recentes do UNEP têm apontando que necessitamos modificar os nossos meios de produção e consumo. O que você pensa a respeito disso?
AL – Isso está correto. Muitos acadêmicos e cientistas estão dizendo a mesma coisa. A humanidade está usando, a cada ano, mais recursos e gerando mais lixo do que o planeta pode suportar. A Global Footprint Network calcula que globalmente estamos usando 1,5 planetas. Os limites da Terra nos obrigam a aprender a usar os recursos de forma mais sensata, desperdiçar menos e compartilhar mais.
Isto significa que para melhorar nossas práticas precisamos tornar a produção industrial mais eficiente, mais saudável e sustentável. Há muito espaço para melhorar. Muitas empresas – grandes, médias e pequenas -, em todo mundo, estão demonstrando, através da redução do uso de água, energia e resíduos, compromisso com a sustentabilidade. A mudança é possível, mas requer redesenhar tudo: os produtos, as fábricas e o sistema energético, em especial. Precisamos cultivar os valores culturais em torno da qualidade de vida, da saúde, da felicidade e da comunidade.
EN – Em sua opinião, quais são os maiores gargalos do nosso modelo econômico?
AL – Há uma série de problemas fundamentais com o nosso atual modelo econômico. Um dos principais problemas é o foco no crescimento econômico e o PIB como o único instrumento para mensurar como a nossa sociedade faz isso. O crescimento econômico deveria ser um instrumento para avançarmos em direção aos objetivos sociais: comunidades mais saudáveis, pessoas mais felizes, ambientes mais limpos e boas escolas. Enquanto isso não mudar, viveremos uma situação ambígua, onde acidentes automobilísticos, derramamento de resíduos perigosos, construção de prisões e problemas de saúde parecem ser considerados positivos, uma vez que auxiliam o crescimento econômico.
Se eu pudesse mudar alguma coisa, criaria uma ferramenta pela qual pudéssemos avaliar o que estamos fazendo como sociedade. Não contaríamos apenas quanto dinheiro temos, mas sim se os nossos filhos estão saudáveis, se temos oportunidades de trabalho decente e educação de qualidade, se os membros da comunidade sentem-se seguros e felizes, se nosso ar está limpo.
EN – Será que estamos diante de uma mudança de paradigma na nossa realidade material?
AL – Há muitos lugares onde as atitudes estão mudando. Há, ainda, milhões de pessoas no mundo que vivem na pobreza, que vão dormir com fome e que precisam de ferramentas para chegar até um nível básico de saúde e dignidade. Na outra extremidade, há outros milhões que acreditam que o caminho da felicidade e segurança é no acumulo de riquezas materiais.
Mas essa atitude está mudando. Depois de décadas de longas horas gastas para que se consumissem mais coisas, estamos nos sentido sobrecarregados. Nossas casas estão cheias, nossas garagens estão cheias. Mesmo com o crescimento explosivo do “mini-armazenamento”, a indústria não pode manter-se com todas as coisas que as pessoas têm acumulado. Passamos os finais de semana comprando mais coisas. Por isso, temos menos amigos; estamos mais isolados socialmente, sem perceber que as coisas mais importantes na vida não são as “coisas” que acumulamos.
EF – Que mudanças estão ocorrendo na economia tradicional após a ampliação do debate sobre a sustentabilidade?
AL – É impossível ignorar a gravidade da crise ecológica. Em todo o mundo, muitos líderes já compreendem que o modelo de produção atual, cheio de resíduos, não terá futuro, por isso querem traçar um novo caminho. As empresas estão aprendendo a eliminar produtos tóxicos dos seus processos de produção, a reclicar a água e materiais, e, maciçamente, a reduzir o uso de energia. Claro, ainda existem empresas que estão resistindo às mudanças. Mas elas ainda serão obrigadas a aplicarem iniciativas de sustentabilidade. É possível, dentro de todos os setores produtivos, ter um negócio próspero com princípios da sustentabilidade.
EN – No livro, você relata histórias que mudaram sua percepção sobre as “coisas” e a economia. Qual dessas histórias mais chamou a sua atenção?
AL – A primeira vez que fiquei interessada em como as “coisas” influenciavam a economia foi quando eu ainda era apenas uma estudante da Universidade de Nova Iorque. Todos os dias no caminha para a aula, eu me perguntava sobre a quantidade grande de lixo nas ruas, algo esperando apenas para ser coletado. Me perguntava o que havia nas sacolas e para onde elas eram enviadas.
Certa vez, ainda estudante, fui até o aterro municipal. Foi uma experiência impressionante ver para onde todas as “coisas” iam: eletrodomésticos, roupas, livros, alimentos, calçados, embalagens. Isso me fez pensar que deve haver alguma forma de melhor atender as nossas necessidades sem desperdiçarmos tantos materiais. Então decidi passar os últimos 20 anos estudando isso: para onde as nossas “coisas” vão, o que há nelas e o que podemos fazer de melhor.
Se você ainda não foi ao aterro de sua cidade, recomento veementemente que vá. Ele lhe dará uma perspectiva fascinante sobre a sociedade do consumo que os anunciantes promovem tão fortemente.
EN – Qual o nosso maior desafio? Mudar a economia ou mudar as nossas atitudes?
AL – Precisamos fazer as duas coisas. A crise ecológica e social que enfrentamos é tão grande e tão interligada que todos nós estamos envolvidos. Precisamos mudar nossas políticas econômicas e industriais de modo a promover ambientes saudáveis, sustentáveis e meios justos de produção, assim como nos libertamos dessa obsessão pelo consumo. Basicamente, precisamos apertar o “reset” em nossa sociedade. Precisamos de diferentes tipos de edificações e de um novo planejamento urbano que incentive o transporte público e a congregação entre as comunidades. Precisamos redesenhar produtos para que eles possam estar livres de produtos químicos tóxicos e terem maior durabilidade. Precisamos de um sistema de gestão dos resíduos que incida sobre a reutilização e não apenas na queima ou soterramento das “coisas”. Com a mudança nas sociedades, os líderes e os empresários serão obrigados a pôr a sustentabilidade em prática. As leis precisam mudar junto com as atitudes. Está tudo interligado.
EN – Ao descrever as suas experiências, você fala de ética, direitos e deveres. Podemos afirmar que a crise no modelo econômico é uma crise ética?
AL – Essa é uma crise ética, física, biológica e social. O nosso atual modelo econômico está destruindo nossos ecossistemas e os recursos que o planeta dispõe, promove o aprofundamento das desigualdades e nega oportunidades para milhões de pessoas. É um sistema que premia alguns enquanto exclui outros, eliminando oportunidades para as gerações futuras. Para superar essas crises, podemos e devemos fazer melhor do que estamos fazendo.
EN – O que você pensa sobre economia verde?
AL – Infelizmente não há uma definição comum para a economia verde. Algumas empresas estão tentando lucrar com um “pacote verde”, mas continuam fazendo o velho: lixos e produtos tóxicos e descartáveis. Elas não estão indo para o caminho da sustentabilidade, mas sim se utilizando de “greenwashing”. No entanto, há uma economia verde que pode significar um sistema que funcione dentro dos limites do planeta, sendo compatível com os sistemas ecológicos que sustentam a vida e que é saudável para as pessoas.
Na verdade, dado que temos de aprender a viver dentro dos limites do planeta, uma economia que pode promover mudanças não deve ser vista como uma opção entre muitas, mas sim como a única opção. E todos nós podemos ajudar a instituir esse modelo econômico. Para isso, precisamos exigir o redesenho e uma revisão completa de nossa economia, e não nos contentarmos com as pequenas e aparentes mudanças que temos visto até o momento.
Desconhecidas por muitos consumidores brasileiros, certificadoras ganham força como uma das ferramentas ambientais mais eficientes
RIO - Uma ida ao supermercado é capaz de nos tornar agentes contra o desmatamento da Amazônia, a poluição de rios, o trabalho escravo e o desperdício. Pouco percebidos nos rótulos, os selos verdes — ou certificações ambientais — trazem a consciência ambiental para os nossos carrinhos de compras. Eles nos orientam na escolha de produtos que respeitam a natureza e foram elaborados a partir de práticas sustentáveis. Quem consome um produto certificado pode, por exemplo, contribuir para que madeiras extraídas ilegalmente em reservas sejam menos competitivas e lucrativas.
— Infelizmente, poucos conseguem reconhecer o que tem por trás desse selo. O que ele representa, o que ele defende — reconhece Fabíola Zerbini, secretária-executiva do FSC Brasil (de Forest Stewardship Council, que certifica madeira). — Acho que isso se deve, primeiro, ao pouco tempo de entrada desses selos na vida das pessoas. O sistema de garantia social e ambiental tem 15, 20 anos.
Em uma pesquisa informal por supermercados, lojas de eletrodomésticos, de móveis e papelarias, a reportagem, sempre próxima a gôndolas com produtos certificados, abordou cerca de 20 pessoas, mas só encontrou quatro que conheciam algum selo. Duas lembraram do Procel, uma certificação para produtos que economizam energia que foi tema de diversas campanhas do governo, e outras duas pessoas mencionaram o Orgânico Brasil, do Ministério da Agricultura, que identifica alimentos sem agrotóxicos ou adubos químicos.
Muitos se disseram dispostos a gastar mais em produtos sustentáveis, mas reclamaram da falta de divulgação das iniciativas. Claramente politizada, a atriz Claudia Wer, cujo protesto contra a privatização do Maracanã em plena final da Copa das Confederações rodou o mundo, é uma dessas pessoas:
— Acho que falta informação, campanha mesmo. Se eu tivesse certeza que o animal é bem tratado, por exemplo, eu não teria problemas em pagar mais pelo produto.
Mesmo entre os que se preocupam com o que representam os itens no carrinho de compras, é difícil achar quem saiba de fato se certificar de que o produto comprado corresponde a suas expectativas. A reportagem achou no carrinho de Marcelo de Souza Silva, um lutador de MMA que disse só comprar produtos orgânicos, uma embalagem de hortaliças que dizia “verduras selecionadas”, mas não continha nenhum selo que comprovasse serem orgânicas, apesar de estarem nesta seção do supermercado. A falta do selo não significa que algo não é aquilo que diz ser, mas as certificações são uma das formas mais práticas e seguras de fazer essas escolhas.
O consumidor brasileiro já está preocupado com suas escolhas, mas não sabe como fazê-las — e desconfia das informações disponíveis. Segundo pesquisa feita no ano passado pelo Instituto Akatu, o brasileiro reconhece a importância de proteger o meio ambiente. Dados de 2010 mostram que 35% dos entrevistados buscam informação sobre responsabilidade social e ambiental. Em contrapartida, 49% não acreditam no que as próprias empresas dizem em relação a si mesmas nesse quesito, contra apenas 8% dos que acreditam.
— A questão tem sido mais abordada pela mídia e pelas empresas. Às vezes de forma inadequada, com anúncios que não são reais — diz Dalberto Adulis, gerente de Conteúdo e Metodologias do Akatu.
Em 2012, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) recebeu 21 denúncias de propaganda enganosa referente a apelos de sustentabilidade — dez acabaram em pedidos de alteração do anúncio, advertência e sustação da veiculação. Em um dos casos, uma empresa foi notificada por destacar em sua embalagem que a lata de alumínio era reciclável, como se fosse uma prática sustentável da companhia, quando todos os materiais do tipo já têm esta característica. O greenwashing, como é chamada esta prática, contribui para a desconfiança do consumidor. A aposentada Jaci Knap, por exemplo, tem preferência por orgânicos, mas não confia no que dizem as embalagens.
— Lavo do mesmo jeito — diz ela.
Estimativas dão conta de que hoje existem mais de 30 selos no mercado. No mundo, esse número pula para mais de 400. Para confiar, é preciso pesquisar quais bandeiras se quer levantar. Aqui, apresentamos 11 que são apoiadas pelo governo federal, ou organizações de defesa do consumidor. A maioria é reconhecida internacionalmente.
Falta consciência e sobra impunidade
Maior demanda dos consumidores, a divulgação sobre a existência e o objetivo dos selos verdes é rara. Como principal estratégia, as certificadoras confiam nas propagandas das próprias empresas portadoras de produtos com os selos. Além da falta de recursos para anúncios, as instituições esbarram em obstáculos como os preços com que os produtos certificados chegam ao mercado, a falta de punição a quem não cumpre as leis — e por isso pode vender mais barato — e o próprio estágio de conscientização dos brasileiros.
— Faltam essas campanhas, esses espaços de comunicação. A própria mídia tem despertado para isso mais recentemente ainda. Isso surge como pauta não tem três, quatro anos. Faz parte do processo. Mesmo que seja recente, vem forte. Acho que a situação vai mudar rapidamente — diz Fabíola Zerbini, secretária-executiva do FSC Brasil.
O FSC é um dos selos mais presentes nos lares brasileiros — é bem provável que um produto na sua casa o tenha. Ela está em embalagens, resmas de papel, revistas e outros. Fabíola admite que o consumidor ainda não pauta suas decisões nisso, mas garante que, entre as empresas, o selo é importante para transações comerciais. Ela conta, no entanto, que há muita madeira certificada na Amazônia sem compradores, já que a maioria “fecha os olhos” para poder pagar mais barato em produtos de procedência suspeita.
Segundo o Grupo Pão de Açúcar, de supermercados, a venda de produtos orgânicos aumenta em média 30% ao ano — sinal de que o Brasil corre atrás do prejuízo. Mas, lá fora, as certificações já ganharam um papel central. O Reino Unido é apontado como um dos países em que a cultura do consumo consciente é mais forte. Lá, a presença de um selo da Rainforest Alliance (RA), que certifica produtos agrícolas sustentáveis, aumentou em 30% a venda de café em lojas do McDonald’s em 2009, segundo informa Eduardo Gonçalves, secretário-executivo adjunto do Imaflora, certificadora da instituição no país. Contatado pela RA no Brasil, o McDonald’s afirmou que ainda não é a hora de certificar seus produtos aqui, conta Gonçalves. Procurada pela Revista Amanhã, a empresa afirmou que tem como objetivo certificar seu café, mas ainda não pode apresentar prazos.
Por causa da falta de interesse local, várias instituições atuam principalmente certificando produtos brasileiros para exportação. Segundo Gonçalves, há produtores de uva brasileiros que precisam do selo para serem aceitos na rede de supermercados americana Whole Foods. Já o Fairtrade International, o selo do comércio justo, tenta este ano entrar com mais força no mercado brasileiro, mas encontra dificuldade pela falta de reconhecimento dos consumidores.
— Pelo nível da economia no Brasil, entendemos que a demanda dos produtos já pode ir além do preço. Queremos que o consumidor comece a se questionar — explica Catalina Jaramillo, representante da instituição baseada no Rio.
Custo ainda é obstáculo
Outro obstáculo é a certificação de pequenos produtores sem recursos para pagar as auditorias necessárias para o selo. A fiscalização ocorre uma vez por ano. Ter um certificado custa de R$ 1,5 mil a R$ 150 mil — sem contar os custos da própria adequação às práticas sustentáveis, que pode ser ainda mais cara. As instituições admitem as dificuldades, mas oferecem fundos de ajuda e parcerias com empresas maiores para superá-las.
Mesmo com tanto rigor, o consumidor precisa estar sempre atento. Uma comparação entre a relação de produtos certificados pela Orgânico Brasil, do governo federal, com a “lista suja” do trabalho escravo, mantida pelo Ministério do Trabalho, apresentou uma coincidência: a Ervateira Catanduvas, fornecedora catarinense de erva-mate.
Por meio de seu advogado, a empresa afirmou que a denúncia não é verdadeira e que está recorrendo em um processo que ainda não transitou em julgado. Para que uma empresa entre na lista, não é preciso a condenação criminal, mas sim a conclusão de auditorias e o julgamento de diversos recursos, com oportunidade de defesa. Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura não respondeu aos pedidos de entrevista sobre este caso.
O Brasil vê oportunidades no desenvolvimento sustentável. A afirmação foi feita por Aris Vrettos, diretor do Programa de Liderança de Sustentabilidade da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, por meio do artigo Lições do Brasil: a sustentabilidade deve permitir que as pessoas alcancem suas ambições, publicado no blog de negócios sustentáveis do jornal inglês The Guardian.
Segundo Vretos, que esteve recentemente no Brasil para um evento da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), a agenda da sustentabilidade se torna cada vez mais importante para os líderes empresariais que se sentem responsáveis para com as suas comunidades e o país como um todo.
“Encontrei brasileiros fazendo a coisa certa”, relatou Vrettos, ao citar exemplos como o de Marco Antônio Rossi, CEO da Bradesco Seguros e presidente da CNseg, para quem “o tema da sustentabilidade sempre é uma motivação”. O diretor da Universidade de Cambridge lembrou também dos desafios que o Brasil enfrenta, como as desigualdades sociais, problemas estruturais e manifestações populares recentes às vésperas da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
Segundo ele, para muitos, o sonho brasileiro significa subir ter mais acesso a renda, comprar um carro melhor ou enviar as crianças para escolas caras e protegidas por um pequeno exército de agentes de segurança.
“Mas isto não é necessariamente o futuro”, pontua Vrettos, ao citar o que ouviu em São Paulo da ex-colega e documentarista Fernanda Polacow: “Essa não é a nossa visão de uma vida melhor. Havia muitas pessoas que protestavam porque esta não é uma aspiração sustentável.”
Lição dos emergentes
Para o diretor da Universidade de Cambridge, que em setembro deverá voltar ao Brasil para lançar um programa de negócios sustentáveis, juntamente com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), os líderes brasileiros se destacam porque “arregaçam as mangas na hora de fazer”, ao contrário de muitos colegas do chamado mundo desenvolvido.
“Muitos líderes do pensamento sustentável tradicional, acostumados a altos padrões de vida e a baixas taxas de crescimento, ficam desesperados com a falta de progresso do mundo desenvolvido e apelam à rápida e radical dissociação ou interrupção do crescimento econômico. Porém, nesta parte do mundo, a sustentabilidade é para ser feita, não reprimida”, defendeu Vrettos.
“Devemos fazer mais para entender o que um mundo melhor e mais sustentável significa em diferentes lugares e como podemos chegar a ele para manter as pessoas produtivas e felizes. Estes são conceitos em que os países em desenvolvimento são muito bons – e podemos aprender com eles. Só para registrar: o Brasil venceu por 3 a 0″, concluiu Aris Vrettos, em alusão irônica ao artigo do The Guardian publicado na véspera da final da Copa das Confederações, no qual havia a previsão de que o sistema vencedor dos espanhóis poderia dar uma lição a impulsividade do talento brasileiro.
Rio de Janeiro – O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) vai supervisionar a implantação do Plano de Gestão da Sustentabilidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. O acordo foi assinado em 19/08 na sede do Comitê Organizador dos Jogos, logo após a apresentação do plano de gestão.
A diretora do programa no Brasil, Denise Hamú, disse que os técnicos “vão ver as estimativas, vão rever as metas, vão sentar e conversar, trocar umas ideias, falar o que não deu certo em tal lugar, trazer a troca de experiências, então, essa é a tarefa do Pnuma, ficar junto, mas separado, ao mesmo tempo, com uma visão crítica e de colaboração”.
Para ela, o esporte remete à sustentabilidade ambiental e o Brasil tem vocação para esta área. “A gente tem uma costa maravilhosa; nós temos a maior floresta tropical do mundo. Nós temos um clima especial; não temos tufões, tsunamis, terremotos, maremotos. Então, você pode imaginar a qualidade de um país como este, que tem a vocação para trabalhar com a questão natural”.
O diretor-geral de operações do Comitê Organizador, Leonardo Gryner, afirma que a participação do Pnuma é fundamental para validar o processo. “Eles [os técnicos] vão ter uma participação muito importante, primeiro na parte técnica, com a validação de todo o programa; no acompanhamento da gestão e na avaliação do progresso do programa. Ter uma referência externa é fundamental para dar credibilidade ao processo. Além da área de educação, de engajamento com a sociedade, mas principalmente pelo aspecto técnico, a credibilidade que traz, o conhecimento e a experiência deles”.
O presidente do comitê organizador, Carlos Arthur Nuzman, lembrou que o Comitê Olímpico Internacional incorporou a questão ambiental a todo o processo de organização dos Jogos, para minimizar os impactos causados pelo evento.
“O comitê, no final do século passado, passou a trabalhar a sustentabilidade, o meio ambiente, de uma maneira muito clara e muito direta, com as Nações Unidas. E o meio ambiente se tornou, com o esporte e a cultura, o terceiro pilar do comitê. Então é um valor muito grande que o movimento olímpico internacional defende, trabalha, exige e compartilha com as Nações Unidas”.
O Plano de Gestão da Sustentabilidade Rio 2016 foi elaborado em conjunto pelo Comitê Organizador, Empresa Olímpica Municipal, Escritório de Gerenciamento de Projetos do Governo do Estado, Autoridade Pública Olímpica e Governo Federal. As diretrizes contemplam os princípios de desenvolvimento sustentável ratificados pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, com os eixos: pegada ambiental reduzida, que envolve transporte e logística, desenho e construção sustentável, conservação e recuperação ambiental e gestão de resíduos; pessoas, com engajamento e conscientização, acessibilidade universal, diversidade e inclusão; e prosperidade, com cadeia de suprimentos sustentável e gestão e reporte.
Cálculo é de pesquisa que estima a pegada ambiental mundial e estabelece o chamado Dia da Sobrecarga
Esgotamento do planeta se antecipa a cada ano; Brasil ainda oferece mais recursos ao mundo do que consome
RAFAEL GARCIA
DE SÃO PAULO
Se a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só os recursos naturais que pudessem ser repostos pelo planeta no mesmo período, em 2013 teríamos de fechar a Terra para balanço hoje, 20 de agosto. Essa é a estimativa da Global Footprint Network, ONG de pesquisa que há dez anos calcula o "Dia da Sobrecarga".
Neste ano, o esgotamento ocorreu mais cedo do que em 2012 --22 de agosto--, e a piora tem sido persistente. "A cada ano, temos o Dia da Sobrecarga antecipado em dois ou três dias", diz Juan Carlos Morales, diretor regional da entidade na América Latina.
Para facilitar o entendimento da situação, a Global Footprint Network continua promovendo o uso do conceito de "pegada ambiental", uma medida objetiva do impacto do consumo humano sobre recursos naturais.
No Dia da Sobrecarga, porém, expressa-o de outra maneira: para sustentar o atual padrão médio de consumo da humanidade, a Terra precisaria ter 50% mais recursos.
Para fazer a conta, a ONG usa dados da ONU, da Agência Internacional de Energia, da OMC (Organização Mundial do Comércio) e busca detalhes em dados dos governos dos próprios países.
O número leva em conta o consumo global, a eficiência de produção de bens, o tamanho da população e a capacidade da natureza de prover recursos e biodegradar/reciclar resíduos. Isso é traduzido em unidades de "hectares globais", que representam tanto áreas cultiváveis quanto reservas de manancial e até recursos pesqueiros disponíveis em águas internacionais.
A emissão de gases de efeito estufa também entra na conta, e países ganham mais pontos por preservar florestas que retêm carbono.
Apesar de ter começado a calcular o Dia da Sobrecarga há uma década, a Global Footprint compila dados que remontam a 1961. Desde aquele ano, a sobrecarga ambiental dobrou no planeta, e a projeção atual é de que precisemos de duas Terras para sustentar a humanidade antes de 2050. A mensagem é que esse padrão de desenvolvimento não tem como se sustentar por muito tempo.
"O problema hoje não é só proteger o ambiente, mas também a economia pois os países têm ficado mais dependentes de importação, o que faz o preço das commodities disparar", diz Morales. "Isso ocorre porque os serviços ambientais [benefícios que tiramos dos ecossistemas] já não são suficientes".
BRASIL "CREDOR"
No panorama traçado pela Global Footprint Network, o Brasil aparece ainda como um "credor" ambiental, oferecendo ao mundo mais recursos naturais do que consome. Isso se deve em grande parte à Amazônia, que retém muito carbono nas árvores, e a uma grande oferta ainda de terras agricultáveis não desgastadas.
Mas, segundo a ONG WWF-Brasil, que faz o cálculo da pegada ambiental do país, nossa margem de manobra está diminuindo (veja quadro à dir.), e exibe grandes desigualdades regionais. "Na cidade de São Paulo, usamos mais de duas vezes e meia a área correspondente a tudo o que consumimos", diz Maria Cecília Wey de Brito, da WWF. O número é similar ao da China, um dos maiores "devedores" ambientais.
Além da abordagem sobre sustentabilidade e RSE, evento apoiará o desenvolvimento de iniciativas empresariais sustentáveis
Estão abertas as inscrições para a 15ª edição da Conferência Ethos Internacional 2013, a ser realizada de 03 a 05/09, em São Paulo. Com o tema “Negócios Sustentáveis e Responsáveis – Oportunidades para as empresas e para o Brasil”, a conferência reunirá representantes de empresas, governo, sociedade civil e especialistas em desenvolvimento sustentável, entre outros.
Abordará assuntos como competitividade, incentivo a produtos sustentáveis, implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), valores e liderança feminina, sustentabilidade na cadeia produtiva, modelo de negócios sustentáveis e responsabilidade social empresarial. Além dessa programação, a conferência contará com módulos de Análise de Casos de Negócios Sustentáveis —nas categorias “Gestão da Cadeia de Valor” e “Produtos e Serviços”; e a Análise de Modelos de Negócios Sustentáveis, voltado para assessorar e promover o reconhecimento de start-ups e novos projetos de negócios sustentáveis. Ambos os módulos estão abertos ao público para inscrição de iniciativas e visam o incentivo, criação e desenvolvimento de modelos de negócios sustentáveis, capazes de gerar lucro em equilíbrio com as três dimensões da sustentabilidade (social, ambiental e ética).
Destacam-se também na programação o módulo “Conversa de Líderes”, que promoverá o diálogo com gestores em posição de liderança sobre suas perspectivas, ações e experiências na transição para a sustentabilidade nos negócios; e o módulo “Educação e Tecnologia”, que explorará as contribuições da educação e tecnologia para uma nova cultura sustentável de consumo, redução das desigualdades e desenvolvimento corporativo.
Inclusão social, erradicação da pobreza e promoção de uma economia verde estarão no documento da ONU.
LUCAS TOLENTINO
Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente
Cinco linhas de ação deverão compor os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que passarão a valer a partir de 2015, em substituição aos Objetivos do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU). O tema foi discutido pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixiera, em conferência realizada em 12/08, no Rio de Janeiro.
O documento que contém a primeira versão dos ODS será apresentado no próximo mês em assembleia da ONU. Segundo a ministra, que integra o Painel de Alto Nível sobre a Agenda de Desenvolvimento pós-2015 das Nações Unidas, os objetivos definem uma mudança na sociedade. "Os ODS sinalizam um novo caminho para não perder o que foi alcançado com os objetivos do milênio", explicou. "É preciso repaginar essa visão."
INCLUSÃO
Organizado pela presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a conferência enfatizou a importância da participação social no processo. Segundo Izabella, questões como inclusão social, erradicação da pobreza e promoção de uma economia verde estão entre os aspectos contemplados pelos ODS. "A inclusão social tem de estar cada vez mais presente no debate", afirmou.
As metas propostas também deverão levar em consideração as particularidades de cada nação. "Serão trabalhadas soluções para os países em guerra e para aqueles que não vivem em regime de democracia", exemplificou a ministra. "Os objetivos tocam em uma série de situações e buscam uma ruptura com a polarização que existe atualmente."
Vídeo sobre o documentário Landfill Harmonic (lançamento previsto para 2014), que apresenta uma orquestra composta por jovens que tocam instrumentos produzidos através da reciclagem de materiais encontrados nos lixões de Cateura, uma cidade Paraguaia com alto índice de pobreza. É impressionante a determinação do grupo e a perfeição do som de seus instrumentos forjados do lixo.
O novo curso Análise e Gestão de Riscos Ambientais, Sociais e de Governança Corporativa alinhados à Sustentabilidade, oferecido pelo Ibmec/RJ, tem matrícula online aberta até 14/08. As aulas - que se iniciam em 17/08 -, serão ministradas às segundas e terças-feiras no período da noite.
O objetivo é gerar eficiência e maximização de resultados ao aprimorar a gestão de investimentos, financiamentos e seguros e levar em consideração os Riscos ESG: ambiental, social e governança.
Tatiana Fonseca, mestre em economia e sócia-fundadora da Quintessa, e Paula Peirão, engenheira de produção especializada em Gestão de Sustentabilidade, se revezarão durante as 30 horas aula - divididas em três módulos. As aulas seguirão até 10/09.
SERVIÇO
Análise e Gestão de Riscos Ambientais, Sociais e de Governança Corporativa alinhados à Sustentabilidade
Local: Ibmec/RJ - Av. Presidente Wilson, 118 - Centro - RJ
Data: às 2ªs. e 3ªs., de 14/08 a 10/09
Inscrições: no site do curso ou por telefone (21) 3284-4000
Consumo energético é menor, mas emissões aumentaram
RIO - Mesmo empresas que conseguiram economizar energia acabaram emitindo mais gases do efeito estufa no ano passado em comparação com 2011. O resultado, que parece contraditório, pode ser explicado pela maior participação das fontes não renováveis de geração de eletricidade, principalmente o acionamento das termoelétricas.
Relatório divulgado na segunda-feira pelo Programa Brasileiro GHG Protocol — iniciativa voluntária de publicação de inventários de gases-estufa de 106 companhias — mostra redução média de 36% do consumo elétrico, mas as emissões passaram de 3,3 milhões para 4,8 milhões de tCO2e (toneladas de carbono equivalente, a unidade para medir as emissões).
— O fator de emissão da eletricidade é calculado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, refletindo a composição da matriz energética nacional. Portanto, foge ao controle das empresas, que acabaram emitindo mais consumindo menos eletricidade — disse Beatriz Kiss, coordenadora do Programa Brasileiro GHG Protocol. — Este resultado negativo acaba de certa maneira mascarando os esforços de redução de consumo. E o governo continua tomando decisões que diminuem a participação das fontes renováveis. Em 2012, 64% da matriz elétrica eram hidrelétrica. Há dez anos, superava os 80%.
Quando são consideradas as chamadas emissões diretas, e não apenas às relacionadas ao consumo de energia, as empresas totalizaram 71,6 milhões de tCO2e em 2012. Neste caso, porém, não foi possível fazer uma comparação com o ano anterior por causa da saída de uma grande empresa do programa.
Os relatórios das emissões de gases-estufa são publicados na internet, na página do Registro Público de Emissões (www.registropublicodeemissoes.com.br), a primeira plataforma do gênero criada no país. Além disso, a participação de empresas é crescente. No relatório de 2012, sempre com dados referentes ao ano anterior, havia 93 companhias, cujas emissões correspondiam a 10% do inventário nacional.
— O exemplo brasileiro foi considerado “benchmark” (referência) pelo World Resources Institute (WRI). Nós somos os únicos que publicamos os resultados numa plataforma on-line — comemorou Beatriz.
Criado há cinco anos, o objetivo do Programa Brasileiro é fazer com que as empresas publiquem seus inventários de gases-estufa. A iniciativa é fruto da parceria entre o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas e o WRI, com apoio do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, Ministério do Meio Ambiente e do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável.
Comentário por Comunicação Organizacional Verde
Embora uma notícia como essa não sinalize uma tendência definitiva, ela parece sugerir alguns pontos para discussão entre os interessados na relação entre meio ambiente e economia. O ponto mais interessante talvez seja a sinalização de uma relação positiva entre lucratividade e sustentabilidade. Esta relação está longe de ser óbvia e, dependendo da perspectiva teórica que o economista adota, ela pode ser vista de forma negativa, já que, caricaturalmente, podemos dizer que o meio ambiente tornou-se apenas mais um ativo cuja escassez produz lucro privado apropriado por poucos; ou positiva, considerando que, grosso modo, empresas que investem no meio ambiente podem lucrar mais, gerar empregos mais bem pagos e "limpos".
Mas além dessas duas visões que caricaturamos acima — e que, por menos que se queira, evidenciam tendências reais na economia — o que mais poderíamos comentar a respeito da notícia? Evidentemente é importante salientar e, se possível, mensurar os aspectos positivos e negativos que o processo de "empresariamento" do meio ambiente gera.Talvez por trás da notícia esteja um aspecto novo da valorização das atividades relacionadas ao meio ambiente, — e uma valorização ligada não apenas à escassez dos bens ambientais ou ao trabalho humano. Bandeira e Lessa Brandão apontam para os menores riscos associados a empresas "sustentáveis" e à sua maior probabilidade de sobrevivência delas no futuro. Atrás de práticas reais de "greenwashing" e de promessas de salvação da economia pelo seu "esverdeamento" parece inegável que a relação entre atividades humanas (simbólicas e materiais) e naturais está ganhando uma visibilidade que é traduzida na valorização dessas empresas. Para além da escassez e do trabalho humano, é a interação dinâmica homem-natureza que ganha relevo. Neste sentido, os maiores índices de lucratividade — que, lembremos, também são símbolos numéricos das atividades econômicas — apontam para essa tendência.
Programa Brasileiro GHG Protocol como benchmark
Considerando que as empresas participantes do Progrema Brasileiro GHG Protocol reduziram o consumo de energia em comparação com o ano anterior, mas não obstante tiveram suas emissões indiretas aumentadas por conta do aumento do uso de energia não renovável na matriz energética Brasileira em 2012, podemos observar que a notícias aqui comentada reduz o papel de “vilãs” das empresas com relação as emissões de gases de efeito estufa e compartilha essa “culpa” com o próprio governo brasileiro (que decide de que fontes virá a energia consumida no país). Todavia, é necessário ressaltar que o Brasil ocupa posição de destaque no cenário internacional por estar entre os cinco países que mais utilizam energia renovável no mundo, de acordo com o jornal Christian Science Monitor, e ser um exemplo no desenvolvimento desse tipo de energia.
Por conta dessa vantagem da matriz energética brasileira, iniciativas como o Programa Brasileiro GHG Protocol oferecem uma boa oportunidade para que empresas e instituições possam exercer transparência quanto às suas emissões de gases de efeito estufa, o que, cada vez mais, tem gerado valor agregado à produção dos mercados nacionais e internacionais.
Não deixa de ser salutar que o Programa Brasileiro GHG Protocol tenha sido apontado como exemplo de liderança com a divulgação dos relatórios, em plataforma online, que, juntos, mostram a redução média de 36% do consumo elétrico, ainda que as emissões tenham passado de 3,3 milhões para 4,8 milhões de tCO2e (toneladas de carbono equivalente, a unidade para medir as emissões). O exemplo do programa brasileiro foi considerado, então um modelo de benchmark pelo World Resources Institute (WRI).
Apontado como uma das soluções encontrada pela Teoria Geral da Administração para empresas que precisam viver num mundo cada vez mais competitivo, o benchmarking é ferramenta emergente e oriunda do próprio mercado. Trata-se, na definição de Howard Rothman (traduzido por Idalberto Chiavenato, 2006, p. 340) do “processo contínuo de avaliar produtos, serviços e práticas dos concorrentes mais fortes e das empresas que são conhecidas como líderes empresariais”.
Ou, nas palavras do próprio Chiavenato: “O benchmarking busca desenvolver a habilidade dos administradores de visualizar no mercado as melhores práticas administrativas das empresas excelentes (benchmarks), comparar as mesmas práticas vigentes na sua empresa, avaliar a situação e identificar oportunidades de mudança dentro da organização” (2006, p. 341).
Em 10 episódios, a série Consciente Coletivo faz reflexões, de forma simples e divertida, sobre os problemas gerados pelo ritmo de produção e consumo de hoje. Entre os assuntos estão sustentabilidade, mudanças climáticas, consumo de água e energia, estilo de vida, entre outros, que permeiam o universo da consciência ambiental. O projeto é uma parceria entre o Instituto Akatu, Canal Futura e a HP do Brasil.
A Boeing monta seu primeiro centro de pesquisas na América do Sul para, junto com a Embraer, criar um querosene renovável, principal aposta da indústria aeronáutica para deixar de ser líder em poluição
Ana Carolina Nunes
De um lado, a americana Boeing, uma das maiores produtoras de aeronaves do mundo. De outro, a brasileira Embraer, líder na fabricação de jatos regionais. Na frente, o desafio que a indústria aeronáutica se impôs de, até 2020, neutralizar o crescimento da emissão de dióxido de carbono. Entre as várias possibilidades de atingir essa meta, a aposta que tem se mostrado mais promissora é a do biocombustível, campo em que o Brasil tem tecnologia de ponta. E é isso que está unindo as indústrias.
A empresa americana irá instalar um centro de pesquisa em São José dos Campos (SP), cidade onde fica a sede da Embraer. Ali, 12 profissionais, entre cientistas e pesquisadores, irão desenvolver combustíveis mais limpos e renováveis. Não vão começar o trabalho do zero. A Embraer e outra parceira, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), já avançaram bem no estudo de formas de viabilizar a produção de biocombustível. A filial paulista será o sexto centro de pesquisa de combustíveis alternativos da Boeing. Os outros ficam em lugares como China, Alemanha e México. É uma estratégia pensada para ter como abastecer aviões em todos os cantos do mundo.
“O mais interessante é que podemos valorizar a economia local, priorizando as ofertas regionais. No Brasil, a fonte que dará origem ao bioquerosene pode não ser a mesma que a da China”, diz o vice-presidente do centro de pesquisa da Boeing no Brasil, Al Bryant. Além de melhorar o ambiente, a empresa acredita que combustíveis sustentáveis podem ajudar a fechar a conta no fim do mês. O abastecimento das aeronaves responde por 40% dos custos das operações. Uma fonte alternativa pode reduzir esse gasto. Isso, claro, desde que ela seja economicamente viável. Essa viabilidade é o maior desafio que Boeing, Embraer e concorrentes têm pela frente.
O Brasil está um passo adiante devido à bem-sucedida experiência com o etanol dos carros e pela fartura de matéria-prima. Cana-de-açúcar , soja e eucalipto são os ingredientes mais comuns na receita nacional de biocombustível. Mas qualquer vegetal que contenha açúcar, amido e óleo é adequado para a produção de bioquerosene. Se tudo sair como o planejado, já em 2016 os tanques dos aviões da Boeing irão exalar aromas com um toque de cana.
Doutor em comunicação e artes pela Escola de Comunicação e Artes da USP, sob orientação de Margarida Kunsch. É mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ. É graduado em Comunicação Social Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal Fluminense. É formado em design gráfico pelo SENAI-Artes Gráficas. Formado em eletrotécnica pelo CEFET/RJ. Atualmente é professor da graduação e coordenador da pós-graduação de Comunicação Organizacional Integrada e da pós-graduação de Gestão do Entretenimento da Escola Superior de Propaganda e Marketing. É professor da graduação de comunicação social da Universidade Federal Fluminense (UFF-Niterói). Profissional com experiência em comunicação e marketing, com ênfase em Cultura e Sistemas Sociais. Atua principalmente nas seguintes áreas: sustentabilidade social corporativa, responsabilidade social, diálogo social, planejamento de comunicação e marketing, comunicação organizacional. Através da ONG Dialog e/ou da consultoria Agência 21 desenvolve estratégias de comunicação e marketing para os projetos de investimento social e gestão de impacto de empresas como Shell, Vale do Rio Doce, Grupo Pão de Açúcar, Carrefour, Portal do Voluntário, Accenture e CSU. Atualmente é consultor associado da consultoria Ideia Café, atendendo a empresas como DNV, Geosoft e Organizações Globo.
Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), mestrado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) e doutorado em doutorado em economia pela Universidade Federal Fluminense (2009). Atua principalmente nos seguintes temas: na área de pensamento econômico, Foucault, figura do homem, arqueologia da economia. Na área de economia ambiental aplicada, procura estudar o impacto de instituições nas preferências dos agentes por recursos ambientais.
Graduado em Jornalismo, possui mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA-UFPA, 2002) e doutorado em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ, 2006). Atualmente é coordenador-estratégico do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC) da ECO-UFRJ, professor da Ibmec e consultor ad hoc do Terceiro Setor. É servidor concursado da Divisão de Comunicação do INCA/MS. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente, negritude, comunidade e crítica da mídia.
Dados mostram que depósitos superam saques em R$ 266 milhões nos últimos 12 meses, enquanto fundos ligados ao Ibovespa perdem R$ 201 milhões
RIO – Em tempos de crise global e Ibovespa abaixo dos 48 mil pontos, o investidor parece estar dando mais valor a ações de empresas com práticas de gestão transparente e proteção ao acionista minoritário e ao meio ambiente. Os fundos que reúnem esses papéis acumulam captação líquida (depósitos menos retiradas) positiva de R$ 266,5 milhões, enquanto os indexados ao Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas do pregão) registram captação negativa de R$ 201,89 milhões no período, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas do Mercado de Capitais (Anbima) até o último dia 24. Os fundos de governança/sustentabilidade estão perdendo menos, -3,59% em 12 meses, contra recuo de 15,54% dos fundos ligados ao Ibovespa no mesmo período.
— A diferença de performance mostra o amadurecimento das empresas nas questões ambientais — diz Sônia Favaretto. — Acabou o falso dilema de 'ou somos rentáveis ou somos sustentáveis'. O ISE reflete uma agenda de negócios.Em seus primeiros anos, explica a diretora de Sustentabilidade da Bovespa, Sônia Favaretto, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa seguiu mais rigorosamente a movimentação do índice geral; depois do auge da crise, em setembro de 2008, começou a descolar, positivamente.
Conselheiro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Carlos Eduardo Lessa Brandão destaca que as empresas que adotem práticas sustentáveis, como as do ISE, vêm apresentando rentabilidade e menor volatilidade que as demais. Para ele, além da quantidade, a qualidade do retorno do investimento deve ser levada em consideração:
— É uma carteira que tende a ter riscos associados à atividade mais brandos do que as que não seguem tais práticas, é um retorno de maior qualidade. Temos percebido um maior interesse neste tipo de investimento e uma tendência de a sociedade e os investidores cobrarem mais das empresas um posicionamento claro em relação à sustentabilidade.
Menos de 30% das empresas da Bovespa têm relatório
O consultor Pedro Galdi, da SLW Corretora, afirma que o conceito de sustentabilidade é muito valorizado no exterior, porque indica eficiência em relação aos indicadores que podem impactar no desempenho futuro da empresa, como o uso de matérias-primas e o descarte de rejeitos industriais. No Brasil, segundo ele, os empresários já começam a demonstrar preocupação com este aspecto, mas a simples coleta de informações ainda é difícil.
Segundo levantamento feito pelo GLOBO nos dados do Formulário de Referência 2012 da Bovespa, das 426 empresas listadas, apenas 116 (27,2%) declararam possuir relatório de sustentabilidade ou similar; 163 (38,3%) não responderam e 147 (34,5%) justificaram a não existência do documento em suas práticas de governança.
— Em relação ao desempenho, o índice geral da Bovespa tem muito peso das commodities e de grandes empresas, como a Petrobras, e de muitas empresas que estão no próprio ISE e no Ibovespa, com pesos diferenciados.
Para Álvaro Bandeira, economista-chefe do grupo Órama, a preocupação com o meio ambiente deverá servir, cada vez mais, como diferencial na opção de investimentos.
— Entre duas empresas com as mesmas características, a vantagem costuma ser das empresas que mais buscam garantir as condições futuras do negócio, o que é evidenciado pela adoção dos critérios de sustentabilidade. Mas não é uma condição determinante, ainda — avalia.
Comentário por Comunicação Organizacional Verde
Mais empresas brasileiras precisam entender que promover maior transparência por meio de informações aos investidores e ao público geral sobre os riscos que correm/assumem, e dar a conhecer as políticas escolhidas para minimizar tais riscos com eficácia e efetividade, não é mais questão de escolha: trata-se de sobrevivência corporativa. Para isso, é importante melhorar os padrões de governança, em função do esclarecimento dos riscos assumidos, em acordo com os interesses dos acionistas alinhados à cultura da organização.
Isso tudo põe em relevo as melhores práticas de governança corporativa e mostra características estratégicas. Dessa forma, é possível identificar riscos e oportunidades, colabora na manutenção e criação de valor pela empresa, aumentando a probabilidade de longevidade de um projeto e, a um só tempo, auxiliando no desenvolvimento sustentável.