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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Eletricidade mais suja ofusca ganho de eficiência das empresas


Consumo energético é menor, mas emissões aumentaram


RIO - Mesmo empresas que conseguiram economizar energia acabaram emitindo mais gases do efeito estufa no ano passado em comparação com 2011. O resultado, que parece contraditório, pode ser explicado pela maior participação das fontes não renováveis de geração de eletricidade, principalmente o acionamento das termoelétricas.

Relatório divulgado na segunda-feira pelo Programa Brasileiro GHG Protocol — iniciativa voluntária de publicação de inventários de gases-estufa de 106 companhias — mostra redução média de 36% do consumo elétrico, mas as emissões passaram de 3,3 milhões para 4,8 milhões de tCO2e (toneladas de carbono equivalente, a unidade para medir as emissões).
— O fator de emissão da eletricidade é calculado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, refletindo a composição da matriz energética nacional. Portanto, foge ao controle das empresas, que acabaram emitindo mais consumindo menos eletricidade — disse Beatriz Kiss, coordenadora do Programa Brasileiro GHG Protocol. — Este resultado negativo acaba de certa maneira mascarando os esforços de redução de consumo. E o governo continua tomando decisões que diminuem a participação das fontes renováveis. Em 2012, 64% da matriz elétrica eram hidrelétrica. Há dez anos, superava os 80%.

Quando são consideradas as chamadas emissões diretas, e não apenas às relacionadas ao consumo de energia, as empresas totalizaram 71,6 milhões de tCO2e em 2012. Neste caso, porém, não foi possível fazer uma comparação com o ano anterior por causa da saída de uma grande empresa do programa.

Os relatórios das emissões de gases-estufa são publicados na internet, na página do Registro Público de Emissões (www.registropublicodeemissoes.com.br), a primeira plataforma do gênero criada no país. Além disso, a participação de empresas é crescente. No relatório de 2012, sempre com dados referentes ao ano anterior, havia 93 companhias, cujas emissões correspondiam a 10% do inventário nacional.

— O exemplo brasileiro foi considerado “benchmark” (referência) pelo World Resources Institute (WRI). Nós somos os únicos que publicamos os resultados numa plataforma on-line — comemorou Beatriz.

Criado há cinco anos, o objetivo do Programa Brasileiro é fazer com que as empresas publiquem seus inventários de gases-estufa. A iniciativa é fruto da parceria entre o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas e o WRI, com apoio do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, Ministério do Meio Ambiente e do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável.

Comentário por Comunicação Organizacional Verde


Embora uma notícia como essa não sinalize uma tendência definitiva, ela parece sugerir alguns pontos para discussão entre os interessados na relação entre meio ambiente e economia. O ponto mais interessante talvez seja a sinalização de uma relação positiva entre lucratividade e sustentabilidade. Esta relação está longe de ser óbvia e, dependendo da perspectiva teórica que o economista adota, ela pode ser vista de forma negativa, já que, caricaturalmente, podemos dizer que o meio ambiente tornou-se apenas mais um ativo cuja escassez produz lucro privado apropriado por poucos; ou positiva, considerando que, grosso modo, empresas que investem no meio ambiente podem lucrar mais, gerar empregos mais bem pagos e "limpos". 

Mas além dessas duas visões que caricaturamos acima — e que, por menos que se queira, evidenciam tendências reais na economia — o que mais poderíamos comentar a respeito da notícia? Evidentemente é importante salientar e, se possível, mensurar os aspectos positivos e negativos que o processo de "empresariamento" do meio ambiente gera.Talvez por trás da notícia esteja um aspecto novo da valorização das atividades relacionadas ao meio ambiente, — e uma valorização ligada não apenas à escassez dos bens ambientais ou ao trabalho humano. Bandeira e Lessa Brandão apontam para os menores riscos associados a empresas "sustentáveis" e à sua maior probabilidade de sobrevivência delas no futuro. Atrás de práticas reais de "greenwashing" e de promessas de salvação da economia pelo seu "esverdeamento" parece inegável que a relação entre atividades humanas (simbólicas e materiais) e naturais está ganhando uma visibilidade que é traduzida na valorização dessas empresas. Para além da escassez e do trabalho humano, é a interação dinâmica homem-natureza que ganha relevo. Neste sentido, os maiores índices de lucratividade — que, lembremos, também são símbolos numéricos das atividades econômicas — apontam para essa tendência. 

Programa Brasileiro GHG Protocol como benchmark


Considerando que as empresas participantes do Progrema Brasileiro GHG  Protocol reduziram o consumo de energia em comparação com o ano anterior, mas não obstante tiveram suas emissões indiretas aumentadas por conta do aumento do uso de energia não renovável na matriz energética Brasileira em 2012, podemos observar que a notícias aqui comentada reduz o papel de “vilãs” das empresas com relação as emissões de gases de efeito estufa e compartilha essa “culpa” com o próprio governo brasileiro (que decide de que fontes virá a energia consumida no país). Todavia, é necessário ressaltar que o Brasil ocupa posição de destaque no cenário internacional por estar entre os cinco países que mais utilizam energia renovável no mundo, de acordo com o jornal Christian Science Monitor, e ser um exemplo no desenvolvimento desse tipo de energia.

Por conta dessa vantagem da matriz energética brasileira, iniciativas como o Programa Brasileiro GHG Protocol oferecem uma boa oportunidade para que empresas e instituições possam exercer transparência quanto às suas emissões de gases de efeito estufa, o que, cada vez mais, tem gerado valor agregado à produção dos mercados nacionais e internacionais.

Não deixa de ser salutar que o Programa Brasileiro GHG Protocol tenha sido apontado como exemplo de liderança com a divulgação dos relatórios, em plataforma online, que, juntos, mostram a redução média de 36% do consumo elétrico, ainda que as emissões tenham passado de 3,3 milhões para 4,8 milhões de tCO2e (toneladas de carbono equivalente, a unidade para medir as emissões). O exemplo do programa brasileiro foi considerado, então um modelo de benchmark  pelo World Resources Institute (WRI). 

Apontado como uma das soluções encontrada pela Teoria Geral da Administração para empresas que precisam viver num mundo cada vez mais competitivo, o benchmarking é ferramenta emergente e oriunda do próprio mercado. Trata-se, na definição de Howard Rothman (traduzido por Idalberto Chiavenato, 2006, p. 340) do “processo contínuo de avaliar produtos, serviços e práticas dos concorrentes mais fortes e das empresas que são conhecidas como líderes empresariais”.

Ou, nas palavras do próprio Chiavenato: “O benchmarking busca desenvolver a habilidade dos administradores de visualizar no mercado as melhores práticas administrativas das empresas excelentes (benchmarks), comparar as mesmas práticas vigentes na sua empresa, avaliar a situação e identificar oportunidades de mudança dentro da organização” (2006, p. 341).

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