A Boeing monta seu primeiro centro de pesquisas na América do Sul para, junto com a Embraer, criar um querosene renovável, principal aposta da indústria aeronáutica para deixar de ser líder em poluição
Ana Carolina Nunes
De um lado, a americana Boeing, uma das maiores produtoras de aeronaves do mundo. De outro, a brasileira Embraer, líder na fabricação de jatos regionais. Na frente, o desafio que a indústria aeronáutica se impôs de, até 2020, neutralizar o crescimento da emissão de dióxido de carbono. Entre as várias possibilidades de atingir essa meta, a aposta que tem se mostrado mais promissora é a do biocombustível, campo em que o Brasil tem tecnologia de ponta. E é isso que está unindo as indústrias.
A empresa americana irá instalar um centro de pesquisa em São José dos Campos (SP), cidade onde fica a sede da Embraer. Ali, 12 profissionais, entre cientistas e pesquisadores, irão desenvolver combustíveis mais limpos e renováveis. Não vão começar o trabalho do zero. A Embraer e outra parceira, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), já avançaram bem no estudo de formas de viabilizar a produção de biocombustível. A filial paulista será o sexto centro de pesquisa de combustíveis alternativos da Boeing. Os outros ficam em lugares como China, Alemanha e México. É uma estratégia pensada para ter como abastecer aviões em todos os cantos do mundo.
“O mais interessante é que podemos valorizar a economia local, priorizando as ofertas regionais. No Brasil, a fonte que dará origem ao bioquerosene pode não ser a mesma que a da China”, diz o vice-presidente do centro de pesquisa da Boeing no Brasil, Al Bryant. Além de melhorar o ambiente, a empresa acredita que combustíveis sustentáveis podem ajudar a fechar a conta no fim do mês. O abastecimento das aeronaves responde por 40% dos custos das operações. Uma fonte alternativa pode reduzir esse gasto. Isso, claro, desde que ela seja economicamente viável. Essa viabilidade é o maior desafio que Boeing, Embraer e concorrentes têm pela frente.
O Brasil está um passo adiante devido à bem-sucedida experiência com o etanol dos carros e pela fartura de matéria-prima. Cana-de-açúcar , soja e eucalipto são os ingredientes mais comuns na receita nacional de biocombustível. Mas qualquer vegetal que contenha açúcar, amido e óleo é adequado para a produção de bioquerosene. Se tudo sair como o planejado, já em 2016 os tanques dos aviões da Boeing irão exalar aromas com um toque de cana.
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