Fonte: Exame.com
Mônica Campi, da Info
Para Emma Furniss, gerente de negócios da Fairphone, é importante conscientizar as pessoas sobre os impactos ambientais da produção de eletrônicos
Divulgação: Emma Furniss, da Fairphone: "celular é o ponto inicial para uma conversa sobre a abertura de produtos e sua rede de abastecimento" |
São Paulo - A alta demanda no consumo de dispositivos eletrônicos traz um viés social — e ambiental — que poucas pessoas consideram quando vão comprar um smartphone ou tablet.
Recursos minerais extraídos de áreas em conflito e más condições de trabalho são alguns dos problemas que constantemente estão por trás do design futurista e da enorme gama de recursos desses dispositivos.
Mas uma organização holandesa sem fins lucrativos, chamada Fairphone, resolveu mudar este cenário ao idealizar e produzir um smartphone socialmente correto.
O smartphone usará a tecnologia Dragontrail Glass (resistente a arranhões) para o visor sensível ao toque de 4,3 polegadas; processador quad core Mediatek 6589; 16GB de memória interna; câmera traseira de 8 megapixels e frontal de 1,3 megapixels; e sistema operacional Android 4.2.
INFO conversou com Emma Furniss, gerente de negócios da empresa, sobre o processo de desenvolvimento do smartphone e projetos futuros.
- Como surgiu a ideia de criar a empresa?
A Fairphone surgiu há três anos como uma campanha para conscientizar as pessoas sobre os conflitos que existem em torno da extração de minerais e cresceu como uma empresa social que aborda toda a cadeia de fornecimento de aparelhos eletrônicos.
Atualmente, contamos com um time de 10 pessoas de diversas formações incluindo designers, engenheiros, cientistas políticos, administradores e comunicadores. Mas não dependemos apenas deles. Nós temos uma comunidade ligada à Fairphone que trabalha de forma colaborativa por meio de diversas outras empresas e organizações.
Bas van Abel, um dos diretores criativos da Waag Society, foi o responsável por iniciar o projeto da Fairphone, pois ele acredita que precisamos mudar a relação entre as pessoas e seus produtos.
Fairphone quer mudar a relação das pessoas com eletrônicos
Para Emma Furniss, gerente de negócios da Fairphone, é importante conscientizar as pessoas sobre os impactos ambientais da produção de eletrônicos
- E como a Fairphone está tentando mudar essa relação pessoas-produtos?
O celular é o ponto inicial para uma conversa sobre a abertura de produtos e sua rede de abastecimento, levantando para os consumidores essas questões referentes aos impactos ambientais da produção de eletrônicos. E uma vez que somos parte deste sistema e o entendemos, nós podemos avançar e melhorar estas percepções como, por exemplo, ao assegurar boas condições de trabalho para todos os envolvidos na produção.
- Quais seriam as principais preocupações com relação à fabricação do smartphone?
Em primeiro lugar, o principal problema é a complexidade da cadeia de suprimentos que peca em transparência e sustentabilidade. E, se você não entende como o sistema funciona, é muito difícil mudá-lo. Indo passo a passo, a Fairphone pretende deixar a história por trás da produção de eletrônicos mais transparente.
- Como vocês definiram a concepção do Fairphone?
O método escolhido foi inspirado na concepção de que se você não pode saber a origem do aparelho, então você não deveria ser o dono dele. Portanto, para mudar as coisas como são, nós precisaríamos abrir e entender a cadeia de suprimentos.
Mas essa cadeia de abastecimento global é muito complexa para ser tratada como um todo. E por isto que decidimos começar com um único produto. Um smartphone aberto e de alto desempenho feito de forma transparente. É um passo de cada vez.
E produzir um celular nos permite levantar essas questões. Hoje em dia, o telefone é o objeto que praticamente todos possuem e é também um símbolo deste nosso mundo conectado. Desta forma, o smartphone é um prático ponto de partida para contar a história de como nossa economia funciona.
- A Fairphone acredita que deveria haver limites na produção de um smartphone? Ou o mais importante deveria ser como esse produto é manufaturado?
O volume pode estar diretamente relacionado ao aspecto justo da fabricação. Precisamos ter cuidado com a pressão que colocamos sobre a cadeia de abastecimento. Vem sendo constante essa alta demanda e prazos apertados que colocam pressão no setor. E isto pode levar a péssimas condições de trabalho, tais como longas jornadas e baixos salários. Como uma empresa social, nós não aceitamos esta metodologia. Para nós este crescimento precisa ser controlado e o tempo de entrega dos aparelhos pode sim ser maior do que estamos acostumados hoje.
- Por que usar o Android e não optar por outra plataforma, de fato, aberta?
Nós escolhemos esse sistema para garantir que teríamos um aparelho estável e funcional desde o início. Nós trabalhamos em parceria com a Kwame Corp. para criar uma interface organizada e amigável para nosso smartphone. Mas também estamos unindo forças com plataformas abertas como o Ubuntu e Firefox . A ideia é oferecer aos usuários outras opções de sistemas operacionais.
- Quais serão os diferenciais do aparelho?
Estamos produzindo um aparelho de alta performance e cheio de funções. Mas ao mesmo tempo é importante notar que a Fairphone pretende desenvolver um telefone que irá durar, tanto em termos de software quanto de hardware. Nós também iremos vender peças separadas do smartphone em nosso site e realizaremos atualizações constantes no sistema.
- E quando vocês pretendem lançar o Fairphone no mercado?
Nós iniciamos uma campanha de pré-venda há dois meses com a oferta de 20 mil smartphones. O aparelho custará 325 euros e até o momento já vendemos mais de 12 mil unidades - precisávamos vender 5 mil para iniciar a produção. Isso demonstra que existem pessoas que querem investir na mudança, colocando o ser humano e o meio ambiente em primeiro lugar. O desenvolvimento e a produção estão em progresso e também estamos investindo na distribuição e ajustes do pós-venda. As entregas devem começar em meados de novembro.
- Após o lançamento do smartphone, quais serão os planos da Fairphone?
Por enquanto, nossos esforços ainda são em assegurar a produção de qualidade dos telefones, bem como sua distribuição e suporte pós-venda. Após o Fairphone começar a ser entregue, pretendemos discutir com nossa comunidade sobre melhorias e intervenções futuras. Nós estamos ajustando equipes de pesquisa para cinco grandes áreas de atuação (materiais preciosos, transparência na produção, design inteligente, negócios justos e valor duradouro), onde iremos definir os próximos objetivos para cada tópico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário