> Comunicação Organizacional Verde: 2013

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Construção sustentável fácil e sem custos extras


Por Saulo Segurado, do Construção Sustentável

Construção sustentável = mais dinheiro, saúde e produtividade


Como é brilhantemente explicado no relatório do Clube de Roma "Money and Sustainability: The Missing Link" (Bernard Lietaer, et al, 2012), nosso sistema monetário atual é naturalmente instável e destrutivo. O relatório apresenta números assustadores: somente entre 1970 e 2010, houveram 145 crises bancárias, 208 crises monetárias e 72 crises de dívidas soberanas, o que resulta em uma média de mais de 10 crises por ano (apenas na Europa).

A conclusão que se pode chegar é simples: não podemos mais ignorar práticas que promovem a Sustentabilidade, como, por exemplo, a construção sustentável.

A indústria da construção é uma das grandes responsáveis pelos elementos que tornam nosso sistema monetário instável, são eles:

  • Os intermináveis empréstimos bancários.
  • Os saques indevidos nos fluxos de caixa visando ROIs de curtíssimo prazo.
  • Os juros compostos que impõem um crescimento obrigatório em um mundo finito. 
  • As taxas de juros convencionais que concentram a riqueza no topo e empobrece a maioria, o que aumente a instabilidade social.
  • A destruição do capital social, sobretudo nos países industrializados.

Os empreendedores da construção precisam entender imediatamente o altíssimo potencial de crescimento de seus lucros resultantes do uso de práticas da construção sustentável, que aumentam consideravelmente a saúde e produtividade dos usuários da edificação, além de contribuir de forma singular para sua reputação no mercado. Somente neste post você vai entender como explorar esta tendência mundial de forma simples para obter os melhores resultados de seus esforços de Sustentabilidade em qualquer projeto.


Como ganhar dinheiro com a construção sustentável? 


http://www.construcaosustentavel.net/2013/12/construcao-sustentavel-mais-dinheiro-saude-e-produtividade.html


Não se trata mais de exibir porcentagens de reciclagens, os consumidores querem uma responsabilidade ambiental muito maior dos fornecedores de seus produtos. E isso se aplica completamente à construção. Ecologicamente correto já não é mais apenas reduzir as emissões de carbono durante a fabricação, isso não atrai mais ninguém. Tratar a Sustentabilidade apenas como uma estratégia de marketing atualmente é inaceitável.

Hoje não adianta um produto ser ecologicamente correto se ele não for prático e bonito ao mesmo tempo. As pessoas querem mais, querem produtos no estado da arte. A construção sustentável é o estado da arte da construção, é onde separamos os homens dos meninos na nossa indústria. 

Atualmente se você disser que tem uma janela de vidro reciclado que as pessoas precisam usar, quase ninguém vai comprá-la. Mas se você disser que tem uma janela energeticamente eficiente (que reduz a conta de eletricidade), linda e fácil de instalar, prepare-se para uma avalanche de pedidos.

É desta forma que enxergamos a construção sustentável no Grupo Ataque Sustentável: ou realizamos projetos de Sustentabilidade fáceis, sem custos extras (até mais baratos, se possível) e com um design tão bom quanto o de qualquer empreendimento convencional, ou nada feito! Como já explicamos em outros posts, isso não é nada fácil, mas é possível se a equipe de projeto estiver disposta a trabalhar mais e fazer corretamente as difíceis decisões onde há um conflito de escolhas.

Para ganhar dinheiro com a construção sustentável o empreendedor precisa fazer mais do que bombardear seus consumidores com mensagens ambientais. É preciso escancarar os benefícios que fazem a diferença para eles. Ninguém se importa com uma porcentagem de redução na emissão de gás carbônico, não perca tempo com isso. Diga para eles exatamente o que eles querem ouvir: quanto vão economizar? quanto trabalho terão? como é o design?

O marketing faz parte da construção sustentável, claro, mas ela é muito mais do que isso. Construir com Sustentabilidade é desafiar o modelo de negócios de uma indústria inteira. Uma indústria grosseira e extremamente lenta na adoção de novas práticas. Ela não tem culpa, afinal sua logística é um fator crítico e requer esforços humanos para viabilizar qualquer mudança. A culpa é nossa por aceitarmos esta lentidão de braços cruzados, considerando que poderíamos estar ganhando muito mais dinheiro, vivendo com muito mais saúde e trabalhando com muito mais produtividade!


Retorno sobre o investimento da construção sustentável 


http://www.construcaosustentavel.net/2013/12/construcao-sustentavel-mais-dinheiro-saude-e-produtividade.html

1. Retorno Econômico

  • Redução de custos: edificações sustentáveis economizam dinheiro desde o primeiro dia de construção. Estas economias são provenientes da redução do consumo de água e energia, no curto prazo, e dos custos com operações e manutenções, no longo prazo.
  • Aumento patrimonial: como investidores e usuários estão cada vez mais familiarizados e preocupados com os impactos ambientais e sociais dos ambientes construídos, edificações com melhores credenciais sustentáveis possuem um maior “valor de marca”, comercialização, etc.
  • Redução nas demandas de consumo: além da economia financeira direta para o empreendedor ou usuário, a redução nas demandas de consumo afeta indiretamente a indústria da construção com um todo. Como edificações sustentáveis fazem mais por menos, os custos com serviços públicos, por exemplo, são consideravelmente reduzidos.
  • Benefícios fiscais: diversos países oferecem incentivos fiscais para a construção sustentável. Por exemplo, para as concessionárias, é importante economizar energia com edificações menores para vendê-la para as indústrias, que pagam mais por quilowatt. Alguns bancos também fornecem financiamentos com taxas menores para a construção de edificações sustentáveis.
  • Aumento das vendas: uma pesquisa feita da Califórnia (EUA) com 100 lojas constatou que as vendas são 40% maiores em lojas que utilizam elementos de iluminação natural, ou seja, além da economia com o consumo reduzido de energia, é possível faturar mais usando práticas sustentáveis. Fantástico, não é?


2. Retorno Social

  • Mais saúde e produtividade: diversas evidências comprovam que a Sustentabilidade aplicada nas características físicas da edificação e dos ambientes internos gera melhorias significativas na produtividade, saúde e bem estar dos usuários, trazendo benefícios valiosos sobretudo para os negócios.
  • Maior qualidade de vida: é muito difícil precificar isso. Por exemplo, quanto você pagaria para desfrutar um dia menos estressante ou para evitar pegar uma gripe? Quando todos os retornos econômicos citados são somados a isso, o estilo de vida sustentável faz sentido para qualquer comunidade no Planeta. 
  • Marketing verde: é um conceito totalmente distorcido pelo público geral. A construção sustentável não é só marketing, mas ela também é marketing. Qual é o problema disso? É como uma empresa que faz ações de caridade em troca de "marketing gratuito", no final todos saem ganhando. Muita gente constrói edificações sustentáveis apenas pelo marketing? Sim, mas, ao mesmo tempo que eles estão obtendo retornos econômicos e sociais (junto à comunidade local, por exemplo) desta exposição diferenciada, eles estão ajudando o Meio Ambiente como qualquer outra edificação sustentável faria.
  • Proteção e retenção de talentos: a forma como os líderes se comportam e influenciam seus colaboradores afeta muito a manutenção das pessoas nas organizações. Ser referência em Sustentabilidade é uma forma de melhorar a retenção das grandes estrelas.
  • Redução de riscos ambientais: é um retorno ambiental que afeta significativamente os outros dois pilares, portanto decidimos colocá-lo aqui. Os riscos ambientais podem afetar significativamente a rentabilidade e o valor dos ativos imobiliários no futuro, refletindo em seu retorno sobre o investimento. Riscos regulatórios estão cada vez mais evidentes em todo o mundo, incluindo códigos e leis que proíbem a construção de edificações ecologicamente incorretas e ineficientes em relação à Sustentabilidade.


3. Retorno Ambiental

Como este não é o foco desta postagem, além da maioria dos retornos serem óbvios, vamos apenas citá-los sem maiores explicações.

  • Redução da emissão de gases nocivos.
  • Conservação e restauração dos recursos naturais.
  • Redução e reaproveitamento de resíduos.
  • Aumento na qualidade do ar e da água.


Traduzindo para a linguagem dos empreendedores da nossa indústria: a construção sustentável é a opção que faz mais sentido porque atrai mais compradores (= mais dinheiro), aumenta significativamente o valor das edificações (= mais dinheiro) e fornece ambientes mais produtivos (= mais dinheiro). Levando isso em consideração e o fato de que estamos caminhando para uma era altamente tecnológica e com recursos naturais muito mais caros, não podemos de forma alguma ignorá-la.


Extra: 3: empresas que estão ganhando muito dinheiro com a sustentabilidade (Fonte: World Resources Institute


http://www.construcaosustentavel.net/2013/12/construcao-sustentavel-mais-dinheiro-saude-e-produtividade.html

1. PepsiCo: técnicas de conservação de água têm ajudado a reduzir os custos de água e energia nas operações da empresa em $45 milhões desde 2006. Trabalhando com ONGs e outros parceiros locais, a PespsiCo está compartilhando os aprendizados destas experiências com sua rede de agricultores para construir uma rede de suprimentos mais sustentável. A empresa também tem um local onde ela está testando tecnologias de energia solar, biomassa e outras fontes limpas, visando descobrir qual tecnologia funciona melhor em suas instalações, considerando as características específicas do seu modelo de negócios.

2. Waste Management, Inc.: a empresa está colaborando com seus clientes e investindo em tecnologias avançadas, como a pirólise, transformando seu fluxo de resíduos em energia limpa. Sua liderança quer criar mais valor a partir de seus materiais do que a concorrência faz. Eles entenderam que, ao desenvolver tecnologias que transformam seus resíduos em produtos de valor, o que é considerado "lixo" pode ser tornar uma fonte importante de receita.

3. Intel Corporation: experimentos envolvendo descontos de custos sociais e ambientais em suas projeções financeiras estão sendo feitos para projetos de capital, como novas fábricas. A Intel Corporation aumentou o tempo de retorno sobre o investimento para alguns projetos que ajudam a reduzir os riscos ambientais. Ao integrar a Sustentabilidade ao coração de seu processo orçamentário, a empresa agora pode fazer investimentos financeiros mais sólidos e com um risco menor de enfrentar as pressões ambientais no futuro. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Antropólogo francês Bruno Latour fala sobre natureza e política

Fonte: O Globo

Por Fernando Eichenberg, correspondente em Paris

Bruno Latour diz que ‘ecologizar’ é o verbo da vez, mas propõe uma noção de 'ecologia' com sentido mais amplo do que o defendido hoje por ativistas e políticos. Para ele, o Brasil, apesar das contradições, é ator fundamental na construção de uma inteligência política e científica para o futuro



A modernidade é uma falácia, uma ficção inventada para organizar a vida intelectual. Os chamados “modernos” pregam a separação de ciência, política, natureza e cultura, numa teoria distante da realidade do mundo e inadaptada aos desafios impostos neste início de século, acusa o pensador francês Bruno Latour, de 66 anos. “Ecologizar” é verbo da vez, sustenta ele, mas num sentido bem mais amplo do que o espaço compreendido pela ecologia defendida por ativistas e partidos políticos. 

— O desenvolvimento da frente de modernização, como se fala de uma frente pioneira na Amazônia, sempre foi, ao contrário, uma extensão de uma quantidade de associações, da marca dos humanos, da intimidade de conexões entre as coisas e as pessoas. A modernidade nunca existiu — dispara Latour, em entrevista ao GLOBO.

Na sua opinião, o Brasil, com todas as suas contradições, é fundamental na possibilidade de um futuro de inovações que gerem um novo tipo de “civilização ecológica”, numa nova “inteligência política e científica”.

Antropólogo, sociólogo e filósofo das ciências, Bruno Latour, que recebeu em maio passado o prestigiado prêmio Holberg de Ciências Humanas, é um dos intelectuais franceses contemporâneos mais traduzidos no exterior. Além de suas originais investigações teóricas, também se aventurou no terreno das artes (com as exposições “Iconoclash” e “Making things public”) e, em outubro, estreou a peça “Gaïa Global Circus”, uma “tragicomédia climática”, que ele espera um dia poder encenar no Jardim Botânico, no Rio. Professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po), lançou ainda este ano o ensaio “Enquête sur les modes d’existence — Une anthropologie des Modernes” (Investigação sobre os modos de existência – uma antropologia dos Modernos, ed. La Découverte).

Qual a diferença entre “ecologizar” e “modernizar”, segundo seu pensamento?

Modernizar é o argumento que diz que quanto mais nós separamos as questões de natureza e de política, melhor será. Ecologizar é dizer: já que, de fato, não separamos tudo isso, já que a História recente dos humanos na Terra foi o embaraçamento cada vez mais importante das questões de natureza e de sociedade, se é isso que fazemos na prática, então que construamos a política que lhe corresponda em vez de fazer de conta que há uma história subterrânea, aquela das associações, e uma história oficial, que é a de emancipação dos limites da natureza. Ecologizar é um verbo como modernizar, exceto que se trata da prática e não somente da teoria. Mas pode-se dizer “modernidade reflexiva” ou utilizar outros termos. O importante é que haja uma alternativa a modernizar, que não seja arcaica, reacionária. Que seja progressista, mas de uma outra forma, não modernista. Um problema complicado hoje, sobretudo no Brasil. Mas é complicado por todo o lado, na França também. Qualquer dúvida sobre a modernização, se diz que é preciso estancar a frente pioneira, decrescer, voltar ao passado. Isso é impossível. É preciso inovar, descobrir novas formas, e isso se parece com a modernização. Mas é uma modernização que aceita seu passado. E o passado foi uma mistura cada vez mais intensa entre os produtos químicos, as florestas, os peixes, etc. Isso é “ecologizar”. É a instituição da prática e não da teoria.


Qual é a situação e o papel do Brasil neste contexto?

Penso que deve haver uma verdadeira revolução ecológica, não somente no sentido de natureza, e o Brasil é um ator importante. A esperança do mundo repousa muito sobre o Brasil, país com uma enormidade de reservas e de recursos. Se fala muito do movimento da civilização na direção da Ásia, o que não faz muito sentido do ponto de vista ecológico, pois quando se vai a estes países se vê a devastação. Não se pode imaginar uma civilização ecológica vindo da Ásia. No Brasil — e também na Índia — há um pensamento, não simplesmente a força nua, num país em que os problemas ecológicos são colocados em grande escala. Há um verdadeiro pensamento e uma verdadeira arte, o que é muito importante. Se fosse me aposentar, pensaria no Brasil. Brasil e Índia são os dois países nos quais podemos imaginar verdadeiras inovações de civilização, e não simplesmente fazer desenvolvimento sustentável ou reciclagem de lixo. Podem mostrar ao resto do mundo o que a Europa acreditou por muito tempo poder fazer. A Europa ainda poderá colaborar com seu grão de areia, mas não poderá mais inovar muito em termos de construir um quadro de vida, porque em parte já o fez, com cidades ligadas por autoestradas, com belas paisagens e belos museus. Já está feito. Mas numa perspectiva de inventar novas modas e novas formas de existência que nada têm a ver com a economia e a modernização, com a conservação, será preciso muita inteligência política e científica. Não há muitos países que possuem esses recursos. Os Estados Unidos poderiam, mas os perderam há muito tempo, saíram da História quando o presidente George W. Bush disse que o modo de vida dos americanos não era negociável. Brasil e Índia ainda têm essa chance. Mas este é o cenário otimista. O cenário pessimista talvez seja o mais provável. 


Qual a hipótese pessimista?

Há os chineses que entram com força no Brasil, por exemplo. Meu amigo Clive Hamilton (pensador australiano) diz que, infelizmente, nada vai acontecer, que se vai fazer uma reengenharia, se vai modernizar numa outra escala e numa outra versão catastrófica. Provavelmente, é o que vai ocorrer, já que não conseguimos decidir nada, e que será preciso ainda assim tomar medidas. Uma hipótese é a de que se vai delegar a Estados ainda mais modernizadores no sentido tradicional e hegemônico a tarefa de reparar a situação por meio de medidas drásticas, sem nada mudar, portanto agravando-a. Mas meu dever é o de ser otimista. Em todo caso, é preciso inventar novas formas para pensar essas questões. 


O senhor acompanhou as manifestações de rua no Brasil neste ano que passou?

É uma das razões pelas quais o Brasil é interessante, porque há ao mesmo tempo um dinamismo de invenção política, ligado a outros dinamismos relacionados às ciências, às artes. Há um potencial no Brasil. E há, hoje, uma riqueza. Não são temas que se pode abordar em uma situação de miséria. É preciso algo que se pareça ao bem-estar. Na Índia, se você tem um milhão de pessoas morrendo de fome não pode fazer muito. O Brasil é hoje muito importante para a civilização mundial.


Os partidos ecologistas, na sua opinião, não souberam assimilar estas questões?

Nenhum partido ecologista conseguiu manter uma prática. A ecologia se tornou um domínio, enquanto é uma outra forma de tudo fazer. A ecologia se viu encerrada em um tema, e não é vista como uma outra forma de fazer política. É uma posição bastante difícil. É preciso ao mesmo tempo uma posição revolucionária, pois significa modificar o conjunto dos elementos do sistema de produção. Mas é modificar no nível do detalhe de interconexão de redes técnico-sociais, para as quais não há tradição política. Sabemos o que é imaginar a revolução sem fazê-la, administrar situações estabelecidas melhorando-as, modernizar livrando-se de coisas do passado, mas não sabemos o que é criar um novo sistema de produção inovador, que obriga a tudo mudar, como numa revolução, mas assimilando cada vez mais elementos que estão interconectados. Não há uma tradição política para isso. Não é o socialismo, o liberalismo. E é preciso reconhecer que os partidos verdes, seja na Alemanha, na França, nos EUA não fizeram o trabalho de reflexão intelectual necessária. Como os socialistas, no século XIX, refizeram toda a filosofia, seja marxista ou socialista tradicional, libertária, nas relações com a ciência, na reinvenção da economia. Há uma espécie de ideia de que a questão ecológica era local, e que se podia servir do que chamamos de filosofia da ecologia, que é uma filosofia da natureza, muito impregnada do passado, da conservação. O que é completamente inadaptado a uma revolução desta grandeza. Não podemos criticá-los. Eles tentaram, mas não investiram intelectualmente na escala do problema. Não se deram conta do que quer dizer “ecologizar” em vez de “modernizar”. Imagine o pobre do infeliz responsável pelo transporte público de São Paulo ou de Los Angeles


A França receberá em 2015 a Conferência Internacional sobre o Clima. Como o senhor avalia esses encontros?

Estamos muito mobilizados aqui na Sciences-Po, porque em 2015 ocorrerá em Paris, e trabalhamos bastante sobre o fracasso da conferência de Copenhague, em 2009. Estamos muito ativos, tanto aqui como no Palácio do Eliseu. Na minha interpretação, o sistema de agregação por nação é demasiado convencional para identificar as verdadeiras linhas de clivagens sobre os combates e as oposições. Cada país é atravessado em seu interior por múltiplas facções, e o sistema de negociação pertence à geopolítica tradicional. E também ainda não admitimos de que se tratam de conflitos políticos importantes. A França aceitou a conferência sem perceber realmente do que se tratava, como um tema político maior. Por quê? Porque ainda não estamos habituados a considerar — e aqui outra diferença entre “ecologizar” e “modernizar” — que as questões de meio ambiente e da natureza são questões de conflito, e não questões que vão nos colocar em acordo. Vocês têm isso no Brasil em relação à Floresta Amazônica. Não é porque se diz “vamos salvar a Floresta Amazônica” que todo mundo vai estar de acordo. Há muita discordância. E isso é muito complicado de entender na mentalidade do que é uma negociação. 


Poderá haver avanços em 2015?

Uma das hipóteses que faço para 2015 é a de que é preciso acentuar o caráter conflituoso antes de entrar em negociações. Não começar pela repartição das tarefas, mas admitindo que se está em conflito nas questões da natureza. Os ecologistas têm um pouco a ideia de que no momento em que se fala de natureza e de fatos científicos as pessoas vão se alinhar. Acham que se falar que o atum está desaparecendo os pescadores vão começar a parar de matá-los. Sabe-se há muito tempo que é exatamente o contrário, eles vão rapidamente em busca do último atum. A minha hipótese para 2015 é que se deve tornar visíveis estes conflitos. O que coloca vários problemas de teoria política, de ecologia, de representação, de geografia etc. Talvez 2015 já seja um fracasso como foi 2009. Mas é interessante tentar, talvez seja nossa última chance. Tenho muitas ideias. Faremos um colóquio no Rio de Janeiro em setembro de 2014, organizado por Eduardo Viveiros de Castro, sobre isso. Depois faremos um outro, em Toulouse, para testar os modelos de negociação. Em 2015 faremos um outro aqui na Sciences-Po. A ideia é encontrar alternativas no debate sobre conflitos de mundo. Não é uma questão das pessoas que são a favor do carvão, os que são contra os “climacéticos” etc. Não é a mesma conexão, não é a mesma ciência, não é a mesma confiança na política. São conflitos antropocêntricos. Interessante que as pessoas que assistiram à minha peça de teatro ficaram contentes em ver os conflitos. Na ecologia se faz muita pedagogia, se diz como se deve fazer para salvar a Floresta Amazônica. Mas não se fala muito de conflitos.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Pinheiros absorvem os gases efeito estufa mais perigosos


Por Gabriel Felix, do CicloVivo

Um recente estudo publicado por cientistas suecos evidencia que os pinheiros e abetos são espécies vegetais que conseguem filtrar grandes quantidades de gases efeito estufa presentes na atmosfera, inclusive o metano – gás considerado quase 30 vezes mais nocivo que o CO2. Assim, a pesquisa europeia revela a importância destas árvores e contraria dados apresentados anteriormente, que consideravam os pinheiros e abetos como potenciais emissores de metano.

Especialistas das universidades suecas de Lund e Estocolmo observaram a concentração de gases poluentes nas florestas com grande número de coníferas – como os pinheiros e abetos – e constataram que, nestas áreas, há níveis menores de gases efeito estufa, principalmente de metano, em comparação aos locais que não possuem as coníferas. Assim, o estudo passa a considerar estas árvores como agentes fundamentais para o sequestro de gases nocivos na atmosfera.

Ao passo que a ciência revela uma nova capacidade para estas árvores, a época de natal pode esconder um grande efeito negativo para o planeta, uma vez que muitos dos pinheiros naturais comercializados no Brasil e mundo afora são simplesmente cortados para fazerem parte da decoração de ambientes, e, muitas vezes, após o final do ano, são descartados. No entanto, quem optou pela árvore de natal natural não precisa se culpar: uma boa alternativa é plantá-la do lado de fora de casa e seguir todos os cuidados necessários. Assim, a árvore continuará a colaborar com o planeta, e, quem sabe, até ficar mais bonita no próximo natal.

O metano é um dos gases efeito estufa mais nocivos, e sua emissão é registrada tanto pela ação do homem (como na atividade pecuária e nas indústrias), como de forma orgânica, e não apenas na atmosfera: segundo o site Ecología Verde, os lagos congelados da Sibéria armazenam mais de 50 milhões de toneladas deste gás – número dez vezes maior do que sua concentração atual na atmosfera, e que pode ser liberado com um processo de degelo, provocado pelo aquecimento global.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Com que roupa eu vou

Fonte: Página 22
Por Carol Nunes

Aplicativo disponibiliza informações sobre loja e marcas de roupas que combatem o trabalho escravo entre seus fornecedores


imagem_sitePara fazer escolhas mais conscientes, o consumidor precisa, pelo menos, ter opções e informações. Entretanto, no ramo do vestuário, ainda é difícil identificar quais marcas não têm mão de obra precária em sua cadeia de valor.

Para ajudar a preencher essa lacuna, a ONG Repórter Brasil lançou o aplicativo gratuito Moda Livre, disponível para smartphones com os sistemas operacionais Android e iOS. Ele traz ao público, de forma acessível, uma compilação de informações sobre os principais varejistas brasileiros de vestuário e as ações promovidas – ou não – por eles para evitar que suas peças sejam produzidas por mão de obra escrava. Em época de Natal e fartura de presentes, vale a pena consultar o aplicativo para compras mais conscientes e para incentivar as boas iniciativas que estão em andamento.

Cada empresa recebe uma pontuação que a classifica em três categorias: verde, amarelo e vermelho, correspondente a seus esforços para combater o trabalho escravo. A avaliação envolve informações de quatro indicadores – políticas, monitoramento, transparência e histórico – baseadas em dados públicos e um questionário ao qual as empresas foram convidadas a responder.

O objetivo é fazer o mapeamento das medidas concretas para combater o trabalho análogo ao escravo e fiscalizar fornecedores. Também é incluído na listagem um resumo do envolvimento das empresas em casos de mão de obra precária, de acordo com dados da justiça.

As empresas que não responderam ao questionário foram automaticamente incluídas na categoria vermelha, por não atenderem ao requisito da transparência. Leonardo Sakamoto, coordenador da Repórter Brasil, justifica que a ausência de respostas claras significa uma falta de compromisso com o consumidor. “Falamos muito de acesso à informação pública, mas nos esquecemos de exigir informação também de quem nos fornece produtos”, afirma.

A iniciativa se propõe a ser um mecanismo de controle social dos varejistas de vestuário, uma vez que todos os questionários ficam disponíveis na íntegra. “Não queremos criar bloqueios, e sim, ajudar o cidadão a se informar.” Sakamoto também alerta que os consumidores não podem ser responsabilizados pela falta de comprometimento dos varejistas com seus fornecedores: “Temos que desenvolver, cada vez mais, plataformas de acesso à informação sobre a produção e a partir daí poderemos cobrar mudanças de comportamento de consumo”.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Consumo consciente deve nortear os festejos de Natal e Ano Novo


Por Tinna Oliveira

Uma simples compra pode diminuir o desmatamento e melhorar a qualidade de vida


Pontapé inicial: sacolas reutilizáveis, primeiro passo do consumo consciente
Nas festas de fim de ano, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) convida os consumidores a prestar atenção na escolha de produtos e presentes mais sustentáveis e a mudar pequenas atitudes. Praticar um consumo consciente traz benefícios como menos degradação, diminuição do desmatamento, menos perda de diversidade, redução da poluição, menos impactos negativos ao planeta e mais qualidade de vida.

A secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental MMA, Mariana Meirelles, explica que consumir de maneira sustentável acontece quando as escolhas de compra são conscientes, responsáveis e com a compreensão de que trazem consequências ambientais e sociais, tanto positivas, quanto negativas.

A publicação“ Pequeno Guia de Consumo em um Mundo Pequeno traz diversas sugestões sobre como consumir de forma mais consciente. Segundo o MMA, consumir de maneira sustentável acontece quando as escolhas de compra são conscientes, responsáveis, com a compreensão de que terão consequências ambientais e sociais - positivas ou negativas.

Nota Fiscal


O apelo comercial em prol do alto consumo é ainda maior nesta época do ano. O primeiro passo é analisar sobre a real necessidade de se adquirir determinado produto. Se optar pela compra, escolha sempre os produtos originais e solicite a nota fiscal. Somente no comércio legal pode-se buscar igualdade nas competições de mercado.

É importante verificar onde o produto foi fabricado. Quanto mais próximo de casa, melhor. Ao comprar um produto oriundo da economia local, o consumidor ajuda a fortalecer o desenvolvimento da região. Verificar a origem é importante também para evitar produtos de regiões ou países com práticas sociais inadequadas e também pesquisar as práticas de responsabilidade social das empresas.

Dicas sustentáveis


Na hora de escolher o look da festa ouse escolher roupas que combinem com seu gosto e não necessariamente as que estão em moda, porque, em pouco tempo, poderão ficar inutilizadas. Outra dica é comprar em brechós, reformar e customizar roupas, sapatos e acessórios e sentir-se realmente original. E o que não for usar mais, poderá ser doado.

Para o deslocamento, opte por maneiras alternativas como uma caminhada, ir de bicicleta, utilizar o serviço público de transporte ou até mesmo a carona solidária. Nas festas, evite o uso de descartáveis e prefira materiais retornáveis. A decoração e os enfeites de Natal podem ser guardados e reutilizados nos anos seguintes.

Economia de luz e água é ainda mais necessário neste período do ano. Outra dica é evitar o desperdício de alimentos. Ao descartar os resíduos, vale checar o que pode ser reutilizado e reciclado, praticando a coleta seletiva. E, para o transporte dos itens, a sugestão é evitar o uso de sacolas plásticas descartáveis e privilegiar as sacolas duráveis e retornáveis. O que sobrou da Ceia de Natal pode ser guardado em potes, evitando o uso de embrulhos descartáveis.

Educação para o consumo


E como tornar o futuro ainda mais sustentável? Investindo no presente e nas crianças. O processo de educar para o consumo deve ser iniciado na infância. É o que diz a cartilha “Consumismo infantil: na contramão da sustentabilidade”, uma produção do MMA em parceira com o Instituto Alana. Ensinar as crianças a diferença entre querer e precisar é um dos principais objetivos do caderno.

Optar por brinquedos educativos, livros ou aqueles tradicionais que estimulam brincadeiras em cooperação e atividades físicas são ótimas opções. Outra dica é incentivar as crianças a doarem um brinquedo antigo ao ganhar um novo. A publicação também orienta pais, educadores e cuidadores a lidar com os apelos da sociedade de consumo.

Todas essas dicas estão relacionadas ao Plano de Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), do Ministério do Meio Ambiente - um documento lançado em 2011 que articula as ações de governo, do setor produtivo e da sociedade por um Brasil com padrões mais sustentáveis de produção e consumo. Dentre os objetivos do PPCS, está a promoção da educação para o consumo sustentável.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Comunicação Organiacional Verde Planta Sustentabilidade no Gandarela

*Por Thais Alessandra, do Coletivo Cirandar


O blog Comunicação Organizacional Verde: Economia, Marketing Ambiental e Diálogo Social para a Sustentabilidade Corporativa foi desenvolvido para apresentar o livro de mesmo nome, lançado em novembro deste ano. Nesse espaço, são abordados temas sustentabilidade, meio ambiente, desenvolvimento, gestão de pessoas, processos e projetos, administração geral, cultura organizacional, orçamento público e planejamento estratégico. Ampliando esse universo, o Blog também abriu espaço para a campanha “Plante Uma Árvore” da floricultura Ikebana Flores, de Belo Horizonte – MG. 

Através da ação, iniciada em novembro de 2012, foi realizado o plantio de 50 mudas em nome dos blogs e sites que abraçaram a causa desde o início das divulgações. Já em outubro deste ano, cerca de 150 blogs e portais publicaram a causa “Plante Uma Árvore” na Serra do Gandarela, Revista Geração Sustentável, Diário Verde, Ciclo Vivo, SOS Mata Altântica, Instituto Estrada Real, Revista Bicicleta, Programa Terra da Gente da Rede Globo, Rede Super de televisão, entre outros; todos que divulgaram essa causa ganharam uma muda nativa plantada nessa serra, pela floricultura Ikebana Flores, no dia 23/10/2013, no “Pé da Serra do Gandarela”, em Rio Acima – MG.

Para plantar 150 mudas nessa serra, a floricultura teve a ajuda do Grupo de Escoteiros Mangabeiras, um nativo da região, três jardineiros, a equipe da Floricultura Ikebana Flores e o Coletivo Cirandar. Além disso, foi empregada uma técnica à base de hidrogel, que estimula o crescimento das plantas.

Compreendemos que a devastação do Gandarela e a criação do Parque Nacional na região estão acima do plantio, mas pretendemos incomodar a sociedade para tomarem alguma providência. Nós estamos fazendo a nossa parte, e você? O próximo plantio será em janeiro de 2014. Ajude essa causa!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Dicas sustentáveis para comprar os presentes de natal

Fonte: EcoD

Se você é como a maioria das pessoas do mundo, também deixou para comprar os presentes de natal de última hora e deve estar doida nesse momento. Se ainda não tem ideias do que comprar para seus amores, aqui vão alguns lembretes:

1 - Mais qualidade, menos quantidade. Esse mantra, repetido exaustivamente por aqui, vale MUITO para o Natal. Melhor um presente bom, que vai durar anos e ter um significado especial para aquela pessoa, do que um monte de presentinho descartável que vai virar lixo pouco tempo depois. Uma ideia legal é juntar várias pessoas, todos os irmãos, por exemplo, e comprar um presentão para os pais, do que cada um dar um presente "marromenos".

2 - Procedência. Pense duas vezes em onde vai investir seu rico dinheirinho. Lembre-se que comprar em determinada loja é financiar toda a cadeia de produção e distribuição daqueles produtos, então fique de olho nas marcas acusadas de trabalho escravo, testes em animais, desrespeito aos funcionários e aos consumidores etc. Boicote é a maior arma que nós temos para forçar as empresas a agirem corretamente.

3 - Compre de quem faz. Tem um movimento lindo chamado “Compro de quem faz” que incentiva o comércio de produtos fabricados por artesãos e artistas criativos e independentes. Essa é uma forma linda de presentear quem a gente ama com um produto que não só é bonito, mas que também tem um significado especial, valoriza o comércio justo e sustentável e é diferente de qualquer coisa comprada em um shopping.

4 - Faça! Eu sei, essa é meio difícil, ainda mais a essa altura do campeonato, mas também não é impossível. Fazer com suas próprias mãos o presente de alguém é a maneira mais simples de dizer o quanto ela é especial para a gente. E não precisa ser a coisa mais complexa do mundo. Pode ser uma lembrancinha para as moças da família, como o balm labial que já mostrei aqui uma vez, lembra?

domingo, 15 de dezembro de 2013

MMA abre prazo para selecionar espaços exibidores do Tela Verde


MMA abre prazo para selecionar espaços exibidores do Tela Verde
Cadastramento pode ser feito pela internet até 30 de janeiro


Por Tinna Oliveira

MMA abre prazo para selecionar espaços exibidores do Tela VerdeEstá aberto, até 30 de janeiro, o prazo para cadastramento de instituições que tenham interesse em ser espaços exibidores de vídeos socioambientais da 5ª Mostra Nacional de Produção Audiovisual Independente - Circuito Tela Verde. Atualmente, existem mais de 1,5 mil espaços espalhados em todo País. Para se cadastrar, basta acessar o link e preencher o formulário.

“Com o aumento do número de espaços, esperamos ampliar o número de expectadores e, assim, promover mais debates socioambientais no Brasil motivados pelos vídeos”, reforça o diretor do Departamento de Educação Ambiental (DEA) da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Nilo Diniz.

Os espaços cadastrados receberão kit para exibição dos filmes. Neste mês, ainda está aberto o prazo para envio dos vídeos socioambientais que, após seleção, farão parte da quinta edição. Os filmes comporão o kit formado também por cartazes e orientações para realização da Mostra. Essa iniciativa atende à demanda por materiais pedagógicos multimídias sobre a temática socioambiental.

Iniciativa inovadora


O Circuito Tela Verde é uma iniciativa dos ministérios do Meio Ambiente e da Cultura, por intermédio da Secretaria do Audiovisual. A 5ª Mostra está prevista para acontecer no primeiro semestre do ano que vem. O objetivo é divulgar e estimular atividades de educação ambiental, participação e mobilização social por meio da produção independente audiovisual, no contexto da educomunicação.

Os vídeos trazem temas como separação do lixo, reciclagem, consumo sustentável e biodiversidade, conservação de parques nacionais. Os filmes podem ser curtas, vinhetas, animações, produzidos a partir de filmadoras, câmeras de celular, digitais ou qualquer outro equipamento que capture imagem e som.

As edições anteriores já exibiram mais de 190 filmes para quase 400 mil pessoas. O público do circuito é formado, em geral, por estudantes de todos os níveis - fundamental, médio e superior - professores, ambientalistas, servidores públicos, representantes de movimentos sociais, técnicos e funcionários de instituições ou empresas privadas.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Iniciativas Empresariais do GVces compartilham experiências de 2013 e perspectivas para 2014

Fonte: GVces 

Fórum Anual propõe ampliar a integração das Iniciativas para intensificar a convergência e articulação de empresas em prol da sustentabilidade, dialogando diretamente com os desafios e a complexidade de um desenvolvimento inclusivo e dentro dos limites ambientais no Brasil


Por Bruno Toledo

Integrar experiências para dialogar com a realidade. Essa é a ideia que guia as atividades das Iniciativas Empresariais desde o começo desse ano, e que se fez presente mais uma vez com a realização do Fórum Anual, promovido no dia 04/12, na Casa das Caldeiras, em São Paulo. As quatro iniciativas do GVces – Plataforma Empresas pelo Clima (EPC), Iniciativa Desenvolvimento Local e Grandes Empreendimentos (IDLocal), projeto Inovação e Sustentabilidade na Cadeia de Valor (ISCV), e iniciativa Tendências em Serviços Ecossistêmicos (TeSE) – se reuniram no Fórum para celebrar e compartilhar o trabalho desenvolvido em 2013 e para apontar as perspectivas para o ano de 2014. O evento também marcou o ciclo das comemorações dos 10 anos do GVces, completos em setembro de 2013.

As Iniciativas Empresariais correspondem a projetos do GVces que atuam na dimensão da oferta da economia e que reúnem empresas para dialogar e co-construir ferramentas, soluções, estratégias e políticas relacionadas em prol do desenvolvimento sustentável. Esse trabalho se desenvolve a partir de quatro temas importantes: clima, inovação, serviços ecossistêmicos e desenvolvimento local.

O Fórum reuniu pesquisadores do GVces e representantes das empresas membro das Iniciativas ao lado de parceiros do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV/EAESP para dialogar sobre os resultados do Ciclo 2013, promovendo troca de experiências, impressões e expectativas.

Confira a seguir alguns dos destaques de cada Iniciativa em 2013, apresentados durante o Fórum.

Empresas pelo Clima (EPC): instrumentos econômicos e ferramentas para a construção de uma economia de baixo carbono


Em 2013, a EPC se debruçou em dois instrumentos econômicos importantes para incentivar a agenda de clima no Brasil: política fiscal e crédito verde, e mercado de carbono. No último caso, a EPC decidiu inovar: convidou suas empresas-membro a elaborar conjuntamente um sistema simulado de comércio de emissões, olhando para as experiências práticas no exterior e para as especificidades e necessidades da realidade brasileira. A partir de grupos de trabalho, a EPC desenhou um sistema que começará a ser simulado a partir de 2014. "A simulação será uma grande oportunidade para que as empresas conheçam na prática a realidade de um mercado de carbono", argumenta Mariana Nicolletti, coordenadora da EPC. "Para nós, será um momento para testar o modelo e analisar o processo, identificando boas práticas que podem ser replicadas em iniciativas voluntárias e reguladas de comércio de emissões".

Além do trabalho com instrumentos econômicos, a EPC também aprofundou o estudo de duas ferramentas importantes para a construção de uma economia de baixo carbono: tecnologia da informação e comunicação (TIC), e energia renovável.

De acordo com Mariana, TIC pode ter um papel importante no esforço de mitigar as emissões de gases de efeito estufa. "Estudos apontam que a aplicação de ferramentas de TIC pode reduzir as emissões nacionais em 27% até 2020, caso ganhem escala dentro da economia", explica a coordenadora da EPC. 

A EPC promoveu em setembro passado uma oficina sobre o tema, trazendo as impressões de especialistas e a perspectiva internacional e reunindo casos de aplicação dessas ferramentas por parte de empresas-membro da Iniciativa. "Essas ferramentas já estão disponíveis, e muitas já estão sendo utilizadas por empresas-membro da EPC, com bons resultados", aponta Mariana. O trabalho da EPC no tema e as ferramentas identificadas estão em um paper especial elaborado pela equipe de pesquisadores da Plataforma. Clique aqui para baixar o paper.

No caso de energia renovável, a realidade atual das emissões nacionais reforça a importância do setor elétrico para os esforços de mitigação nacional. Nos últimos anos, as emissões associadas à produção de energia elétrica aumentaram mais de 120%, muito acima da média global no setor e do próprio crescimento da economia brasileira no mesmo período. Segundo Mariana, "o setor elétrico já representa por volta de 8% das emissões nacionais, com a tendência de dobrar até o final desta década, tendo em vista os investimentos previstos no país em fontes fósseis, como o pré-sal".

Para contribuir na discussão sobre o tema, a EPC elaborou um conjunto de propostas de políticas públicas para o setor elétrico brasileiro, com o propósito de auxiliar o poder público na construção de uma matriz energética mais limpa. Estas propostas estão sistematizadas em uma nova publicação da série “Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo Carbono no Brasil”, lançada durante o Fórum.

Para as empresas brasileiras, as mudanças climáticas já são uma realidade cotidiana, e o sucesso da EPC e do Programa Brasileiro GHG Protocol é uma evidência de como essas organizações estão se preparando e trabalho para uma economia de baixo carbono. "O tema da mudança do clima trouxe uma revolução dentro da nossa empresa, na gestão e no engajamento dos nossos colaboradores", aponta Alexandre Mendonça, da OI, que contribuiu com o diálogo que se deu no centro da roda no Fórum. Segundo ele, abordar as mudanças climáticas dentro da empresa serviu para que diversos setores da empresa se aproximassem e refletissem coletivamente sobre o tema. "É dessa integração de áreas e de equipes que surgem novas ideias", completa Alexandre.

Inovação e Sustentabilidade na Cadeia de Valor (ISCV): Resíduos Sólidos e Pós-Consumo


O Ciclo 2013 de ISCV encarou um tema delicado e complexo na agenda política brasileira atual: a gestão de resíduos sólidos e pós-consumo. "Em geral, a sociedade não gosta de pensar e discutir sobre resíduos", aponta Renata Toledo, coordenadora da Iniciativa. “Culturalmente, a sociedade ainda tende a ignorar a questão do lixo em geral e da produção de resíduos, por ser um problema complexo, que envolve práticas de consumo”. Mas para as empresas brasileiras, resíduos e pós-consumo tornaram-se tópicos importante em sua agenda desde que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) entrou em vigor, em 2010, prevendo metas e obrigações para o poder público, setor privado e cidadãos em geral.

No decorrer de 2013, foram realizadas três oficinas com a presença das 16 empresas membro de ISCV e de nove pequenos e médios empreendimentos com práticas e processos inovadores e sustentáveis na gestão de resíduos sólidos e pós-consumo. "As oficinas serviram como oportunidade para discutir e mapear os desafios e oportunidades das empresas no que tange à implementação da Política Nacional, para que depois pudéssemos contribuir para o tema com orientações para o gerenciamento de resíduos sólidos", explica Renata.

Os casos de inovação selecionados e as orientações para gestão de resíduos estão na publicação final do Ciclo 2013. Durante o Fórum, os nove casos do Ciclo 2013 puderam apresentar suas soluções de inovação na gestão de resíduos e pós-consumo em uma feira, que reuniu também quatro dos nove empreendimentos que participaram do Ciclo 2012 do projeto ISCV.

A grande proposta de ISCV é servir como catalisador para que a cadeia de valor de grandes empresas se torne uma indutora da inovação em sustentabilidade, a partir dos pequenos e médios empreendimentos, que muitas vezes são fontes primordiais de soluções inovadoras para o mercado.

Muitas empresas importantes vêm trabalhando para aproveitar o potencial de inovação na cadeia de valor. Por exemplo, a BRF, que foi representada no Fórum por Fernanda D’Avila, da área de sustentabilidade, vem desenvolvendo um programa de monitoramento das suas cadeias de suprimento, iniciativa influenciada pelo trabalho de ISCV. "Percebemos que um ambiente de criação conjunta e de diálogo é o caminho para que empresas grandes, com cadeias de valor complexas e muita geração de resíduos, possam discutir inovação e sustentabilidade em suas operações e junto aos seus fornecedores", aponta Fernanda D'Ávila. “Fizemos um trabalho interno intenso, chamando outras áreas da empresa para desenvolver o programa de monitoramento em sustentabilidade das nossas cadeias de suprimento, para construir um ambiente de transparência e diálogo dentro da empresa e com os nossos fornecedores”.

Com o apoio das grandes empresas cresce o potencial de inovação de pequenos e médios fornecedores para desenvolver novas soluções na gestão de resíduos sólidos. "A Política Nacional é uma decisão da sociedade, que precisamos dar encaminhamento e resolver", explica Fernando Grazini, da RedeResíduos, uma das iniciativas inovadoras selecionadas por ISCV neste ano. "E precisamos fazer isso cooperando com os diferentes atores, compartilhando nossos aprendizados e construindo coletivamente os caminhos e soluções".


Iniciativa Desenvolvimento Local e Grandes Empreendimentos (ID Local): Proteção integral de crianças e adolescentes


O mote da IDLocal, em seu primeiro ciclo de atividades, foi a proteção integral de crianças e adolescentes no contexto de grandes empreendimentos. Segundo Aron Belinky, coordenador da Iniciativa, esse tema surgiu a partir de uma provocação inicial feita pela Childhood Brasil, uma das parceiras de IDLocal neste Ciclo, ao conhecer o trabalho desenvolvido pelo GVces na construção de indicadores de desenvolvimento local em Juruti (PA): como conectar o desenvolvimento local com a questão da proteção da infância e da juventude.

"Nós apostamos na ideia de que podemos gerar valor para as empresas e para a sociedade a partir da proteção integral de crianças e adolescentes", explica Aron. A partir de um processo de construção coletiva, o objetivo da IDLocal em 2013 foi construir um conjunto de diretrizes empresariais para orientar a atuação das empresas na proteção integral desses jovens cidadãos em lugares que recebem grandes empreendimentos.

O trabalho foi desenvolvido a partir de oficinas temáticas, com a presença de especialistas, que auxiliaram no diagnóstico dos desafios que as empresas enfrentam e na identificação dos papéis e responsabilidades das empresas na proteção integral. Um momento importante nessa etapa de diagnóstico foi a viagem de campo para a cidade de Altamira (PA), com o objetivo de conhecer mais de perto os impactos e as mudanças causadas pela construção da AHE Belo Monte.

"A viagem para Altamira foi muito marcante para todos nós", reflete Ana Paula Cutolo, da AngloAmerican. “Vimos na prática os dilemas causados pela vinda de um grande empreendimento, e percebemos também que não podemos subestimar a capacidade da população local de compreender as mudanças decorrentes dessa nova realidade”.

A partir das experiências de campo e das discussões em oficinas, a IDLocal desenvolveu um conjunto de diretrizes, sistematizado na publicação Geração de Valor Compartilhado a partir da Proteção Integral de Crianças e Adolescentes. Uma das ideias para 2014 já está em prática: um grupo de empresas-membro da Iniciativa utilizarão as diretrizes como ferramenta para o planejamento em situações tangíveis e reais. "Teremos um diálogo contínuo dentro do grupo, identificando as dificuldades de aplicação e as possibilidades de melhoria nas diretrizes", explica Aron. "Nossa ideia é termos, no final de 2014, um conjunto de orientações práticas para a implementação dessas diretrizes pelas empresas".

Tendências em Serviços Ecossistêmicos: Valoração


Junto com IDLocal, outra Iniciativa Empresarial do GVces que debutou em 2013 foi a Tendências em Serviços Ecossistêmicos (TeSE). Segundo Mario Monzoni, a proposta da TeSE é lidar com uma lacuna que as empresas ainda possuem no campo da sustentabilidade. "Hoje, a atividade econômica lança suas externalidades socioambientais para a economia, o que acaba subsidiando seus preços no mercado", explica Monzoni. "É por isso que a insustentabilidade acaba sendo mais barata que a sustentabilidade, e no final é a sociedade quem paga por essas externalidades".

A TeSE busca ajudar as empresas a perceberem e compreenderem o custo real dessas externalidades para as suas próprias operações. Considerar externalidades como custo zero significa comprometer a disponibilidade e o uso futuro dos serviços ecossistêmicos que são essenciais para as atividades de uma empresa.

O primeiro passo para incorporar as externalidades é a valoração dos serviços ecossistêmicos, que foi o tema central do primeiro ciclo de atividades da TeSE. "A ideia de valorar não é nova, mas isso nunca avançou exatamente por causa da insegurança em como proceder", explica Renato Armelin, coordenador da TeSE. "Geralmente compreendemos valor associado a preço, e preço é um atributo de mercado, mas serviços ecossistêmicos não possuem um mercado".

No primeiro semestre, a Iniciativa organizou três oficinas temáticas com a presença de especialistas, para alinhar as empresas e discutir o estado da arte. A partir disso, a equipe e as empresas-membro construíram diretrizes para valoração dos serviços ecossistêmicos, com base em três premissas. "Primeiro, elas são baseadas em técnicas consolidadas na academia, mas são simples e de baixo custo, para privilegiar o que as empresas já possuem", explica Renato. "Segundo, elas são flexíveis e robustas o suficiente para que as empresas possam adaptá-las para qualquer tipo de decisão de negócio; e em terceiro, elas deixam claro quais são as limitações das abordagens e como os resultados devem ser interpretados de forma honesta e realista". A primeira versão dessas diretrizes pode ser vista na publicação da TeSE lançada durante o Fórum.

Para 2014, a ideia é revisar, aprimorar e ampliar as diretrizes desenvolvidas neste ano - que contemplam atualmente seis tipos de serviços ecossistêmicos (quantidade de água, qualidade da água, assimilação de efluentes líquidos, regulação do clima global, recreação e turismo, e biomassa combustível). Além da revisão técnica, a TeSE também auxiliará as empresas membro em projetos pilotos que colocarão as diretrizes em práticas e servirão para identificar necessidades de aprimoramento.

Integração: Perspectivas para 2014


Desde o começo de 2013, as Iniciativas Empresariais do GVces  vêm construindo uma rede de empresas dedicadas à construção de uma economia mais sustentável.

Um momento importante na integração das Iniciativas neste ano foi a Jornada Empresarial “Terceira Margem”, que convidou as empresas membro das quatro Iniciativas para uma viagem de campo conjunta, que permitisse aos participantes perceber a complexidade de desafios, interesses, papéis e ideias que permeiam assuntos-chave da sustentabilidade. Nessa linha de integração, a proposta da viagem de campo foi bastante influenciada pela metodologia por trás das experiências de campo vividas pelas turmas do FIS – Formação Integrada para a Sustentabilidade, disciplina eletiva oferecida pelo GVces aos alunos de graduação da FGV-SP.

“Nossa proposta era aprender saindo do lugar comum, ver como pessoas em um território diferente, com uma realidade diferente, encaram os mesmos problemas que a gente enfrenta”, explica Gildete Araujo, do Grupo O Boticário, que participou da Jornada. Para ela, a diversidade do grupo foi um diferencial da viagem. “Tínhamos pessoas de empresas de diferentes setores, com desafios e preocupações diversas, mas todos estavam engajados e envolvidos naquela experiência”.

Para 2014, o principal objetivo do GVces  em relação às Iniciativas Empresariais é aprofundar ainda mais a integração das suas atividades, experiências e processos. Além da realização da viagem de campo e do Fórum Anual, a proposta é integrar as Iniciativas no campo temático: no próximo ano, IDLocal e ISCV trabalharão conjuntamente em torno de um mesmo foco – promover a inovação em sustentabilidade no contexto da implementação de grandes empreendimentos, destacando o papel das grandes empresas em fomentar a inovação no relacionamento com as cadeias locais de valor.

“O GVces quer ser um hub para fortalecer os ecossistemas de inovação no Brasil”, explica Paulo Branco, vice-coordenador do GVces. “Os desafios da sustentabilidade podem ser traduzidos em oportunidades de negócio, e a inovação é um vetor fundamental para isso”.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"Guide to Greener Electronics" do Greenpeace mede a sustentabilidade de empresas



As empresas, principalmente as transnacionais, terão, cada vez mais, de negociar com outros atores sociais, para além do Estado e seu poder regulatório, quando se tratar do lançamento de produtos ambientalmente responsáveis. Esse novos atores podem, por exemplo, ser membros de comunidades tradicionais atingidos por algum empreendimento que se reuniram em torno das possibilidades proporcionadas pela Internet, aquilo que o filósofo Pierre Levy chamou de "liberação da palavra" (o debate público não mediado pelas grandes corporações de mídia). Por isso, o Terceiro Setor se fortalece cada vez mais nesse processo. Um dado concreto é a ideia inovadora do Greenpeace: o Guide to Greener Electronics. Trata-se de uma escala que mede os produtos de empresas em uma gradação cromática de cores, do vermelho ao verde, determinando quais delas lançam produtos mais (ou menos) sustentáveis. Há marcas analisadas pelo Guia bastante conhecidas no ocidente, como Toshiba, Sharp, Philips e Nokia, porém a considerada mais "verde" foi a indiana - e praticamente desconhecida pelo mercado consumidor brasileiro - Wipro, uma companhia eletrônica que obteve 7.10 pontos (a escala vai de 0 a 10). Quais empresas brasileiras se habilitam a se submeter ao guia internacional?

domingo, 8 de dezembro de 2013

Coca-Cola se compromete a não comprar açúcar de grileiros


Por Bruno Calixto

Tratores em uma plantação de cana de açúcar ocupam terras indígenas dos Guarani-Kaiowá, em Mato Grosso do Sul. (Foto: Tatiana Cardeal / Oxfam)
Tratores em uma plantação de cana-de-açúcar ocupam terras indígenas dos Guarani-Kaiowá, em Mato Grosso do Sul. (Foto: Tatiana Cardeal / Oxfam)
  
A Coca-Cola, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, anunciou uma nova política para seus fornecedores para evitar que o açúcar utilizado em seus produtos seja produzido em fazendas de cana em situação de conflito. "A Coca-Cola acredita que a grilagem de terras é inaceitável. Estamos implementando uma abordagem de tolerância zero à grilagem em toda a nossa cadeia de fornecimento", diz a empresa.

A decisão é uma resposta a uma campanha iniciada no mês passado pela Oxfam, uma rede de organizações que atuam em áreas como a erradicação da pobreza. A campanha pressiona as dez maiores empresas do mundo do setor de alimentos a rever suas políticas para fornecedores, para que elas não comprem produtos de fazendas irregulares ou que enfrentam denúncias de violação de direitos humanos.

"Nós analisamos as políticas dessas companhias em relação a seus fornecedores, e detectamos que conflitos de terras são totalmente desconhecidos pela maioria das empresas", diz Gabrielle Watson, coordenadora de campanha da Oxfam. Segundo ela, grandes companhias de alimentos estão comprando açúcar produzido em fazendas onde ocorrem conflitos com povos indígenas ou comunidades locais.

Gabrielle cita dois casos recentes no Brasil. Em Mato Grosso do Sul, uma das fornecedoras da Coca-Cola estava produzido em uma terra indígena reconhecida - mas ainda não demarcada - do povo Guarani-Kaiowá. Esse povo vive uma verdadeira tragédia por conta da dificuldade em conseguir a demarcação de suas terras. O outro caso é em Pernambuco, onde uma das fornecedoras está em conflito com pescadores tradicionais. A Oxfam acredita que, se as grandes empresas do setor pressionarem seus fornecedores, elas podem conseguir resultados positivos para a resolução de conflitos no campo ou problemas ambientais. "Nós esperamos que a intervenção da Coca-Cola possa levar a respostas positivas por parte das usinas de cana-de-açúcar".

Com a nova política, os fornecedores deverão resolver todos os possíveis conflitos antes de assinar novos contratos. A Coca-Cola também se comprometeu com a transparência, divulgando seus principais fornecedores de açúcar, e disse que vai conduzir estudos sobre as questões sociais e ambientais em áreas de cana em sete países: Brasil, Colômbia, Guatemala, Índia, Filipinas, Tailândia e África do Sul.

De acordo com a Oxfam, a Coca-Cola foi a única, das dez empresas questionadas pela compra de açúcar, a se posicionar. "Com essa decisão, a Coca-Cola se torna líder nessa questão e as suas concorrentes terão que correr atrás", diz Gabrielle. Segundo ela, é esperado que outras empresas também apresentem propostas similares em um futuro próximo.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Izabella Teixeira critica exploração de gás de xisto


Karine Melo, repórter da Agência Brasil
Edição: Nádia Franco

Brasília – A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, criticou ontem (05/12/13) a exploração de gás de xisto como estratégia para reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa. “Eu acho isso [exploração de gás de xisto para essa finalidade] insuficiente", disse a ministra. "De fato, não está dando grande mudança e, por outro lado, trabalha-se com tecnologias que podem implicar danos ambientais muito graves”, acrescentou.

Izabella ressaltou que os países interessados precisam conhecer as técnicas disponíveis e que não é tradição brasileira adotar a tecnologia de fraturamento de rochas, necessária nesse tipo de atividade. “Continuo trabalhado para que possamos ampliar a matriz energética brasileira, do ponto de vista renovável", ressaltou a ministra.

Ela alertou que é preciso evitar situações em que o Brasil seja exposto, em função de tecnologias não adequadas ambientalmente, à contaminação de lençóis freáticos, mas 'não é isso que está na mesa”. Até agora, o Brasil se prepara para fazer apenas uma pesquisa exploratória, e não uma exploração comercial dessa fonte de energia, disse.

Ontem (6) a ministra reuniu-se com representantes do Instituto Brasileiro de Petróleo e de todas as empresas envolvidas na pesquisa. Segundo ela, está sendo criado no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) um grupo de especialistas para colocar à disposição caminhos de capacitação, qualificação e acesso à informação. O grupo também será responsável pela preparação dos ritos de tramitação de licenciamento ambiental que serão usados no caso de o Brasil, em algum momento, optar pela exploração comercial do gás de xisto.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

TIM integra pelo sexto ano consecutivo na carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial

Divulgada na última quinta-feira (28/11), a lista da carteira do Índice de Sustentabilidade (ISE) da BM&FBOVESPA traz a TIM pelo sexto ano consecutivo. Estão presentes no ISE as empresas que têm ações com alto grau de comprometimento em sustentabilidade e governança corporativa. A nova lista entra em vigor a partir de janeiro de 2014. 

A participação da TIM no ISE reforça o compromisso e as boas práticas da empresa em relação às ações sustentáveis. Este ano, a operadora apresentou o Instituto TIM, com o principal objetivo de criar e potencializar recursos estratégicos para a democratização da ciência e inovação, promovendo o desenvolvimento humano e utilizando a tecnologia móvel como um dos principais habilitadores. Outro destaque foi a realização do inventário de emissões de gases de efeito estufa auditado por um empresa independente, que rendeu, pela segunda vez consecutiva, o selo ouro do GHG Protocol, programa da Fundação Getúlio Vargas.  

Este ano, a carteira terá 51 ações de 40 companhias listadas na Bolsa, quatro a mais do que a anterior. O valor de mercado das empresas que integram o ISE subiu de R$ 1,07 trilhão para R$ 1,14 trilhão, o equivalente a 47,16% de todos os papéis negociados no pregão. Vale destacar que a TIM é a única empresa do setor de telecomunicações listada no segmento Novo Mercado da BM&FBOVESPA, reconhecido como nível máximo de governança corporativa. 

domingo, 1 de dezembro de 2013

BM&FBOVESPA divulga a carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial para 2014

Fonte: ISE

Número de empresas que autorizaram a abertura das respostas do questionário subiu de 14 para 22


Três novos setores passam a fazer parte da carteira


Valor de mercado sobe de 44,81% para 47,16%


A BM&FBOVESPA anunciou na última quinta-feira (28/11) a nona carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que vai vigorar de 06 de janeiro de 2014 a 02 de janeiro de 2015. A nova carteira reúne 51 ações de 40 companhias. Elas representam 18 setores e somam R$ 1,14 trilhão em valor de mercado, o equivalente a 47,16% do total do valor das companhias com ações negociadas na BM&FBOVESPA (com base no fechamento de 26/11/2013). 

Das 37 empresas da carteira atual, 36 foram selecionadas também para a nova. E quatro companhias ingressaram: Cielo, Embraer, Fleury e Klabin, trazendo para o ISE três novos setores: Serviços Financeiros Diversos; Material de Transporte; e Serviços Médicos, Hospitalares, Análises e Diagnósticos.

O número de empresas que autorizaram a abertura das respostas do questionário foi de 22 do total de 40 que compõe a nova carteira (no ano passado, 14 companhias de 37 liberaram a publicação). As 22 empresas são: AES Tietê, Banco do Brasil, BicBanco, CCR, Cemig, Cielo, Coelce, Copasa, Copel, Duratex, EDP, Eletrobras, Eletropaulo, Even, Itaú-Unibanco, Itausa, Klabin, Light, Natura, SulAmerica, Vale e WEG.

Este ano, o processo do ISE contou novamente com a Asseguração da KPMG, o que contribui para conferir ainda mais credibilidade aos procedimentos. 

Foram convidadas para participar da nova carteira as 183 companhias que detinham as 200 ações mais líquidas da Bolsa em dezembro de 2012. Destas, 45 empresas se inscreveram para participar do processo concorrendo ao ingresso na carteira e 04 na qualidade de treineiras, buscando se preparar para os próximos anos. 




  • 100% das empresas publicam relatório de sustentabilidade, 95% no modelo GRI. Em 93% das companhias, existe envolvimento direto dos administradores na definição do Relatório de Sustentabilidade;
  • 100% das empresas possuem compromisso com o Desenvolvimento Sustentável formalmente inserido na estratégia; 
  • 98% das companhias possuem programa de educação e sensibilização sobre o desenvolvimento sustentável;
  • 95% das empresas possuem diretoria que se reporta diretamente ao primeiro escalão; 
  • 58% possuem Comitê de Sustentabilidade que se reporta ao Conselho de Administração. 


Sobre o ISE


O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi criado em dezembro de 2005 pela Bolsa e seu desenho metodológico é responsabilidade do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). Esta metodologia busca avaliar de forma integrada os diferentes aspectos da sustentabilidade. Seus objetivos são ser uma referência para o investimento socialmente responsável e  atuar como indutor de boas práticas no meio empresarial brasileiro.

O ISE reflete o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com os melhores desempenhos em todas as dimensões do questionário. Às dimensões conhecidas como Triple Bottom Line (Ambiental, Social e Econômico-Financeira) foram adicionadas outras quatro dimensões: governança corporativa, geral, natureza do produto e mudanças climáticas.

É calculado pela BM&FBOVESPA em tempo real ao longo do pregão, considerando os preços dos últimos negócios efetuados no mercado à vista. As ações integrantes do ISE são selecionadas entre as 200 mais negociadas no pregão em termos de liquidez e ponderadas na carteira pelo valor de mercado dos ativos disponíveis à negociação. 

O ETF ISUS11 (fundo de índice), listado em 31/10/2011, é baseado no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Os fundos de índices, conhecidos no mundo todo como ETFs (Exchange Traded Funds), são fundos espelhados em índices e suas cotas são negociadas em Bolsa da mesma forma que as ações.

O Conselho do ISE é presidido pela BM&FBOVESPA. Além da Bolsa, é composto pelas seguintes entidades: Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, International Finance Corporation (IFC), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e Ministério do Meio Ambiente.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Livro “Comunicação Organizacional Verde” ganha destaque na mídia


O livro, pensado para o público empresarial e acadêmico, tenta suprir a lacuna de bibliografia nacional que oriente empresas e organizações sobre como transformar os desafios trazidos pelas mudanças climáticas e a escassez de determinados recursos naturais em verdadeiras oportunidades de negócios


   Imagem: Nathália Ronfini
Da esquerda para direita: Eduardo Murad, Emmanoel Boff e Nemézio Amaral Filho autografando o livro durante o lançamento
Diante do crescente interesse da sociedade pelo tema sustentabilidade ambiental, o livro Comunicação Organizacional Verde: Economia, Marketing Ambiental e Diálogo Social para a Sustentabilidade Corporativa, lançado em 18 de novembro deste ano, ganhou destaque na mídia através de notas e matérias em jornais, portais de notícia e rádio, incluindo também uma entrevista concedida por um dos autores ao programa Show de Notícias, da CBN. Editada pela Editório, a obra nasceu com a proposta interdisciplinar inédita de, por meio da Economia, o Marketing e a Comunicação, lançar bases do crescimento sustentável por meio do conceito de Comunicação Organizacional Verde. Não por acaso, o projeto foi idealizada pelo economista Emmanoel Boff (UFF), pelo jornalista Nemézio Amaral Filho (Ibmec), e pelo publicitário Eduardo Murad (UFF/Ibmec), os três professores-doutores que ministram disciplinas que fazem a interface entre suas áreas de formação e as questões ambientais.

                                                       Imagem: Nathália Ronfini
Da esquerda para a direita: Eduardo Murad, Emmanoel Boff e Nemézio
Amaral Filho durante a palestra realizada no lançamento do livro
De acordo com Nemézio Amaral Filho, cada vez mais empresas e organizações têm investido em sustentabilidade, mas a maior parte delas ainda têm dificuldades em comunicar adequadamente ao consumidor como a empresa fornece produtos e serviços ambientalmente responsáveis, transformando essa informação num diferencial mercadológico. "O que fizemos foi sistematizar e propor procedimentos ao mercado a partir de pesquisas e metodologias acadêmicas. Há uma disposição favorável da opinião pública por empresas que adotem práticas sustentáveis - é preciso saber comunicá-las", explica Nemézio Amaral Filho. Eduardo Murad completa: “Consumir é também uma forma de se expressar. Quando um consumidor adquire um produto ele não busca somente o bem material ou o serviço, mas também todos o valores que ele transmite. Felizmente, há um mercado em forte ascensão que se identifica com as questões ambientais e que escolhe a opção verde na hora de comprar, mesmo que isso represente pagar mais”.

Para Emmanoel Boff, o crescimento do consumo verde é uma forma de pressionar as empresas que não investem em sustentabilidade a reavaliar suas diretrizes. “Não só os consumidores estão começando a aprender a fazer escolhas mais conscientes, como os grandes investidores também têm exigido das companhias que provem que investem em sustentabilidade e que assim estarão preparadas para encontrar fontes alternativas e menos poluentes para as suas produções, num futuro bem próximo, o que deve garantir a longevidade desses negócios”.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

“Agroecologia é caminho para o novo mundo”, defende Leonardo Boff

Fonte: EcoAgência

Por Raíssa Genro e Débora Gallas - especial para a EcoAgência

O modelo de civilização de acumulação de bens materiais à custa da devastação da natureza já mostrou sua falência, daí a importância da agroecologia, que trabalha com o ritmo da natureza


Imagem: Anelise De Carli - Leonardo Boff na abertura do VIII CBA
”O pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que vai nos tirar dela”. Citando Einsten, assim iniciou a fala de Leonardo Boff na conferência de abertura do VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia, que ocorre até quinta-feira (28/11) no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Boff é teólogo e filósofo, fundador da teologia da libertação e autor de O tao da libertação. “É preciso, analisou Boff, inventar uma nova forma de habitar, de consumir, de nos relacionar entre nós e com a terra. Há cientistas que dizem que ou mudamos de rumo, ou morremos, alertou.  O filósofo afirmou que as pessoas presentes eram a alternativa de transformar a tragédia em crise que permite um salto de qualidade, diferente da ideia de “ganhar o máximo possível em menos tempo”, desrespeito aos bens e serviços da natureza.

A preservação da Terra é instintiva ao homem, fundamental para sua sobrevivência e não a do planeta, pois “ela pode continuar coberta de cadáveres, sem nós e até melhor sem nós”, frisou Boff. O modelo de civilização de acumulação de bens materiais à custa da devastação da natureza já mostrou sua falência, daí a importância da agroecologia, que trabalha com o ritmo da natureza. “Sentindo-se não senhor da terra, mas aos pés dela”, sentenciou o teólogo. Boff disse que não gosta da expressão bens e serviços, bem melhor é o termo indígena “as bondades da natureza”. Esta visão, afirmou, que entende o ser humano junto com o planeta terra funda as bases filosóficas que estão no princípio desta agricultura e pressupõe uma nova visão de mundo.

Boff lembrou o pensamento de Fritjof Capra de que se os seres humanos soubessem entender o tempo da Terra e conviver uns com os outros não precisaríamos falar em ecologia, citando princípios que contribuem para a saúde da terra: a ética do cuidado, que impedirá futuras feridas ao planeta, a responsabilidade coletiva, a cooperação, uma vez que  nosso sistema vigente não se rege desta forma, mas sim pela competição, e a compaixão, noção que vem do oriente. “Não é ter peninha do outro, mas se colocar no lugar do outro e caminhar junto com ele”. Precisamos, provou ele, resgatar a razão cordial, a razão sensível. Diferente do que dizemos, que isto prejudica a objetividade, na verdade contribui para devolver saúde à terra. Não devemos, frisou, perder a capacidade de projetar sonhos e utopias, tornando-os realidade através das práticas. “Para dar novo rumo à nossa história e salvar a Terra” finalizou Leonardo Boff.